Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Historicamente muita coisa sobre a Idade Média, ou era Medieval, se perdeu em meio a guerras, catástrofes naturais e dificuldades tecnológicas para se registrar os acontecimentos nesse período, isso faz com que muita coisa desse período seja coberto de especulações e mistérios. Não que isso seja ruim visto que essa provavelmente não foi uma época bela para se viver. Mas essas lacunas nos permitirem imaginar muita coisa, o que enriquece bastante a nossa literatura e cinema, e abre a possibilidade dos autores trazerem novas perspectivas sobre esse período. E é isso o que se propõe Gary Whitta (roteirista de Star Wars: Rogue One) em seu livro Abominação. Mas antes de continuarmos, esqueça o que está escrito na sinopse do livro sobre os vikings, eles não são os principais antagonistas na história, na realidade eles são meros coadjuvantes, apenas uma ameaça em potencial e que desencadeia o princípio de toda a jornada contada no livro. Abominação é um livro dividido em duas partes, a primeira parte conta como a ameaça das invasões vikings fizeram com que o Rei Alfredo, o Grande, autorizasse o arcebispo Aethelred a estudar e desenvolver experimentos para criar um exército imbatível, tudo isso baseado em pergaminhos encontrados nas escavações de uma igreja do reino. Esses experimentos deram origem a criaturas monstruosas, primeiro a partir de outros animais, depois a partir de humanos e, especialmente esta última, fez Alfredo se arrepender amargamente de tê-lo autorizado a tais pesquisas e o prendeu por tais atrocidades. Mas Aethelred já dominava a magia envolta nos pergaminhos e tratou de fugir, afim de continuar suas criações e experimentos. E é nesse momentos que conhecemos o principal personagem da trama, Wulfric, braço direito do rei nas guerras contra os Vikings e que foi chamado novamente para a batalha para combater as criaturas criadas por Aethelred e assim nasce a Ordem, grupo destinado a vagar pelas terras do Rei caçando e matando as abominações criadas pelo arcebispo. Essa primeira parte do livro faz valer a leitura, uma perseguição frenética, com muitas batalhas sangrentas até o seu desfecho, que por razões óbvias não irei contar aqui para não estragar a surpresa. Já a segunda parte da história se passa quinze anos após os eventos da primeira e foca em Wulfric e a sua vida após a batalha contra as monstruosidades de Aethelred e a busca de Indra, uma jovem guerreira que busca provação para si que é capaz de enfrentar uma abominação sozinha e conseguir mostrar a todo, inclusive seu pai, de que é capaz de ser aceita na Ordem. Nessa etapa da história conseguimos ver algo mais humanizado, tentando trazer o leitor a se sensibilizar com as situações passadas por ambos os personagens principais, perde-se o foco nas batalhas e no sangue (não que não existam passagens assim nessa parte do livro) e passamos a ver um lado da história inesperado e triste. Infelizmente não posso falar mais sem soltar spoiler da primeira ou da segunda parte. Mas vamos a resenha em si. Abominação é o primeiro romance escrito por Gary Whitta, essa é uma informação bem importante visto que a estrutura da escrita e da história nos faz lembrar muito o de um enredo para televisão ou cinema, este livro poderia ser descrito como algo pronto para essas mídias caso o autor ou algum diretor desejasse. Além disso, podemos perceber com perfeição todos os 12 Estágios da Jornada do Herói e, caso alguém não conheça, vou colocar a descrição de Christopher Vogler abaixo: Os 12 Estágios da Jornada do Herói: Mundo Comum — O mundo normal do herói antes da história começar. O Chamado da Aventura — Um problema se apresenta ao herói: um desafio ou a aventura. Reticência do Herói ou Recusa do Chamado — O herói recusa ou demora a aceitar o desafio ou aventura, geralmente porque tem medo. Encontro com o mentor ou Ajuda Sobrenatural — O herói encontra um mentor que o faz aceitar o chamado e o informa e treina para sua aventura. Cruzamento do Primeiro Portal — O herói abandona o mundo comum para entrar no mundo especial ou mágico. Provações, aliados e inimigos ou A Barriga da Baleia — O herói enfrenta testes, encontra aliados e enfrenta inimigos, de forma que aprende as regras do mundo especial. Aproximação — O herói tem êxitos durante as provações Provação difícil ou traumática — A maior crise da aventura, de vida ou morte. Recompensa — O herói enfrentou a morte, se sobrepõe ao seu medo e agora ganha uma recompensa (o elixir). O Caminho de Volta — O herói deve voltar para o mundo comum. Ressurreição do Herói — Outro teste no qual o herói enfrenta a morte, e deve usar tudo que foi aprendido. Regresso com o Elixir — O herói volta para casa com o “elixir”, e o usa para ajudar todos no mundo comum. Estas características estão por trás da maioria das grandes histórias, das antigas às modernas, e em Abominação não é diferente, cada um dos 12 passos é percebido durante a leitura. E não estou dizendo que isso seja algo ruim, aos que pretendem escrever um dia, esta pode ser uma valiosa lição de como estruturar a história. O maior problema da obra está exatamente na segunda parte, o ritmo baixa demais, a história começa a desenrolar para um final óbvio e toda aquele fantastico ambiente criado com a primeira parte do livro começa a se desvair até restar muito pouco. Não que a obra seja ruim nessa etapa, mas ela fica menos impactante e não há como não comparar com a primeira parte que certamente tem nota máxima nesse quesito. É uma boa leitura, uma história cativante e muita tensão, mas não podemos chamar de um grande clássico. Título: Abominação Autor: Gary Whitta Tradutor: Petê Rissatti Editora: DarkSide Especificações: 320 páginas, Limited Edition (capa dura). COMPRE AQUI!