Billy Batson (Asher Angel) é um jovem de 14 anos que busca incansavelmente o paradeiro de sua mãe biológica. Ele se perdeu e nunca mais conseguiu encontra-la. Socialmente falando, ele é uma criança deslocada e por conta disso ele não consegue ficar em lares adotivos, na primeira oportunidade ele foge e nunca mais volta. Um dia, um mago conduz ele até um local para conceder a ele os poderes do Shazam, daí o filme se desenrola.

O filme começa de uma maneira lenta e com alguns pequenos erros de continuidade, mas dali já vemos que a ambientação do filme seria diferente da que estamos acostumados nos filmes de heróis de hoje em dia. Parece que o filme se passa nos anos 90 por conta da sua linguagem e elementos visuais. Sinceramente não achei isso de todo ruim, acho a ambientação boa, mas nada tão digno de nota. As cores são interessantes e chamativas, mas sinto um resquício da era Snyder. Muitas partes do filme são escuras demais e imagino que isso seja pior quando o filme seja assistido em 3D. As cores são ótimas, mas precisava de mais delas.

Falando em ambientação, o filme flerta muitas vezes com elementos de terror, isso se dá pela visão do diretor. David F. Sandberg é um diretor iniciante e tem dois longas de terror em seu currículo, sendo eles Quando as Luzes se Apagam (2013) – filme baseado em um curta do YouTube – e Anabelle 2: A Criação (2017). Por conta dessa bagagem, muitos elementos de Shazam! são visivelmente inspirados nesse traço, acho curioso a escolha deste diretor para conduzir um filme de herói e ainda mais estranho quando o herói é o Shazam. Acredito que isso seja uma recomendação do James Wan, ele também vem desse tipo de cinema e já trabalhou com o diretor outras vezes. Por conta do sucesso comercial de AquamanWan deve ter ficado com algum respeito dentro da Warner e por isso deve ter indicado ele. De qualquer forma, a direção é bem normal e não traz muita coisa de novidade.

O filme possui um roteiro carregado de piadas e quase todas elas funcionam muito bem. Ele pega como base o quadrinho dos Novos 52 escrito por Geoff Johns e desenhado por Gary Frank, ambos creditados no final do filme. Fiz um texto sobre um ótimo quadrinho do personagem e citei algumas coisas relacionados ao futuro da publicação da revista dele, clique aqui para ler. Se tratando do desenvolvimento do vilão, o roteiro deixa um pouco a desejar. Acho que o rumo poderia ser diferente, mas escolheram associar a história de origem do vilão e do herói, isso quase sempre dá errado. Mas o vilão tem uma boa atuação, Mark Strong sabe fazer um vilão imponente e acho que é o melhor da DC até o momento.

Felizmente o vilão não é o centro do filme, ele serve somente para ser o contra-ponto do herói e aparecer em brigas. O ponto alto do filme é a discussão sobre família de uma maneira geral. Todos os filmes da DC não tem muito o que dizer ou ensinar, muita das vezes são só espetáculos visuais com uma história empolgante. Aqui nós temos um ensinamento de verdade e isso é muito bem construído. O lar adotivo é uma das melhores coisas do filme e a discussão sobre qual família você pertence é simplesmente linda. Me lembrou bastante alguns filmes que trazem este mesmo tipo de discussão, como por exemplo Pequena Miss Sunshine (2006) e Capitão Fantástico (2016). Todos os três filmes abordam uma família desfuncional que funciona de sua própria maneira. Inclusive, destaque para o Cooper Andrews, uma das melhores figuras paternas do cinema, sem exagero nenhum.

Alguns personagens merecem um destaque aqui nesse texto. Jack Dylan Grazer, que faz o Freddy Freeman é, depois de Zachary Levi, a melhor autuação do filme. É arriscado você dar o mesmo tempo de tela do herói para uma criança, mas esse menino é muito competente e não entrega aquele típico adolescente irritante. Adorei ele e como ele serve de muleta (sem trocadilhos) para o herói. Todas as referências e piadas que ele faz se encaixam muito bem no contexto do filme. Por falar em referências, amei as referências ao Sr. malhado. Queria muito que ele tivesse no filme ou ao menos uma cena pós créditos, uma pena que tenha fixado só nas referências. Voltando…outra coisa fofa no elenco é a Faithe Herman, que garotinha fofa! A personagem dela é muito boa e esse é apenas o seu segundo trabalho como atriz. Acho que essa menina tem muito potencial para o futuro.

Quando eu vi o Zachary Levi na roupa do personagem eu fiquei com um grande receio. Me parecia que ele estava numa roupa que parecia aquelas fantasias de criança que possui enchimento, felizmente quando ele está em tela isso não fica tão perceptível assim. A atuação dele é muito boa, fiquei muito satisfeito ao ver ele em cena. Todas as vezes que o foco não era ele eu ficava ansioso para vê-lo novamente, de fato a melhor atuação do filme. Ele entendeu perfeitamente o papel e ele realmente parece uma criança num corpo de adulto, isso é fantástico. A mesma proporção que ele consegue ser infantil, ele consegue ser sério nos momentos de perigo eminente, justamente no último ato do filme.

Nem tudo são flores, já disse o meu ponto negativo com o vilão e outro ponto que achei um pouco jogado na trama é o arco dramático entre Billy e sua mãe. Eu entendo que precisa ter um exemplo que seja completamente oposto para que o elemento principal ganhe peso, mas já tinha o exemplo da família do Vilão em si, não precisava de mais um. Não posso entrar muito afundo nesse quesito por conta de spoilers, mas de fato isso foi desnecessário. Algumas piadas se repetem e isso pode incomodar algumas pessoas mais sisudas. Piadas com o traje, papai noel, entre outras. Eu não fiquei incomodado, pelo contrário, esse filme me divertiu muito e não tiraria nenhuma piada do roteiro.

Shazam! é o melhor filme da DC até o momento em minha singela opinião. Adorei Aquaman, mas esse filme aqui foi muito mais divertido e eu sinto mais vontade de assisti-lo novamente, justamente por ser leve e engraçado. E ganhamos mais um filme para ver nos natais em família. Adorei as piadas, adorei o Zachary e adorei os ensinamentos sobre família que o filme se propõe em trabalhar. Quero ver muito mais do universo Shazam, já sabemos que está confirmado um filme do Adão Negro e espero que eles aumente o panteão do herói. Ponto para a DC, continue assim, por favor!

Shazam! (EUA, 2019)

Direção: David F. Sandberg

Duração:  

Elenco: Zachary Levi, Mark Strong, Asher Angel, Jack Dylan Grazer, Faithe Herman,

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