Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Desde o ano passado me preparo pro The Wall, show do Roger Waters que aconteceu nesse dia 29 de Março. Junto com mais 6 amigos me mandei pro Rio de Janeiro dois dias antes do espetáculo, coisa de fã mesmo, e também porque além do show seria uma oportunidade pra dar uma volta pela cidade com os amigos. As famosas “águas de março fechando a porra do verão” estavam deixando a cidade num clima chuvoso que chegou a ameaçar a apresentação, pois segundo a produção, a velocidade do vento muito alta durante a chuva poderia ocasionar risco de vida ao público por causa das torres de som e torres de projeção de imagens que fazem parte dos aparelhamentos. O vento realmente estava forte em nível perigoso na chuva do dia 28, chegou a derrubar uma arvore centenária nos arredores do Catete, pertinho do albergue onde eu estava dormindo. No dia 29, comprado o kit de transporte promocional do The Wall para pegar metrô + trem (todo customizado, bonitinho e tal), fomos eu e os outros seis em direção ao Engenhão, estádio em que o show ia acontecer. O kit consistia em um cartão magnético do metrô, com passe pra ir e voltar, e dois bilhetes de trem. O cartão, segundo o panfleto do kit, só funcionaria a partir das 5 horas da tarde, horário em que os portões do estádio abririam, como eu tinha vindo do Piauí pro Rio só por causa do show, é claro que eu não iria pro estádio na hora que abrisse os portões! Queria pegar a porra dum lugar lá na frente. Sai do albergue logo depois do almoço, umas 14 horas, o cartão promocional do metrô não funcionou, o funcionário teve que abrir a passagem lateral pra passarmos. Mas okay, de noite funcionaria… o metrô do Rio é eficiente em horários que não são de pico, chegando na Central do Brasil fomos em direção ao Trem. Adivinha? O bilhete do trem também não funcionou e tiveram que abrir a passagem lateral também. Se o metrô do Rio é funcional e legalzinho, o trem é uma desgraça. A classe média anda de metrô e a baixa de trem, por isso o trem é podre, sem ar, horrível, enquanto o metrô é todo ajeitadinho, aparentemente limpo e etc. Como em toda cidade, no Rio pro governo pobre tem é que se foder mesmo, pegando transporte de merda e super-lotado. [Nota: Qualquer semelhança com São Paulo não é mera coincidência] Acho que tinha umas 30 pessoas no máximo na minha frente na hora que cheguei ao Engenhão. Quando os portões abriram, umas cinco e meia da tarde, devia ter umas 100, a fila estava crescendo na frente e lateralmente e não pra trás, mas foda-se, isso não me atrapalhava muito mesmo, eu ainda tava muito na frente. E então entramos no estádio. Claro que tudo lá dentro era caro, cerveja em lata 6 conto, refrigerante 5, cachorro-quente 6… um chaveiro oficial da turnê custava 30 reais, a camisa 70. Bah, eu não ia comprar porra nenhuma mesmo, só um refrigerante, me recuso a pagar essa porra cara desse jeito. Enquanto o show não começava a galera ficou sentada no tablado que cobria todo o gramado da pista, conversando, esperando o tempo passar, muita fumaça subindo, claro, várias gerações de fãs do Pink Floyd juntos no mesmo lugar não tinha como não rolar. Quando deu 10 horas todo mundo que tava no chão começou a se levantar, e a galera que chegou em cima da hora tentando se meter no meio do espaço de quem chegou cedo. Não entendo esses filhos da puta que chegam 30 minutos antes do show e ficam empurrando as pessoas que estão a mais de 5-6-10 horas esperando ali. Claro que dei muito esporro e causei algumas confusões, tentando afastar esses espertalhões. Com meia hora de atraso o show começou com “In The Flash”, numa pirotecnia sincronizada somada com um sistema de som espantoso, parecia que o avião do áudio e projetado no muro estava sendo abatido ao nosso lado, e ainda havia um avião direcionado por um cabo de aço caindo de cima do estádio e se chocando contra o muro, derrubando uma parte dele, finalizando com maestria a primeira música. O destaque do show na verdade não é o próprio Roger Waters, é o muro. No início o muro está apenas parcialmente construído, sendo o palco o espaço aberto, no caso do show do Engenhão o muro tinha uns 132 metros de largura e uns 12 de altura. Durante o show o muro é construído pela produção, parte por parte, lentamente durante cada música, o intervalo do show é quando o muro está finalizado e o final quando está derrubado. O que chama a atenção para o muro além do seu tamanho colossal, é a qualidade das projeções e das animações, tudo em alta resolução. Algumas animações no muro chegam com o bom esquema de luz, a simular efeitos 3Ds naqueles do público que estão mais vidrados, somado isso a uma arquitetura de som poderosa e pronto, você tem um espetáculo fodão em mãos. Eu não gosto muito do Roger Waters, embora adore quase todas as letras do The Wall acho sua voz meio ruim pra cantor, mas com esse espetáculo que ele tem em mãos é meio complicado negar sua genialidade e megalomania, afinal, é um gasto colossal toda aquela estrutura, acho difícil termos nos dias de hoje um show tão complexo. Há uma mistura de teatro, filme, animação, música e sonoplastia tudo de uma vez num show. Um boneco gigante aparece em frente ao muro em “Another Brick in The Wall”, onde foi enfrentado pelo coro de um grupo de meninos da rocinha cantando: “We don’t need no education We don’t need no thought control No dark sarcasm in the classroom Teachers leave us kids alone” O porco voador gigante com frases libertária (esse do Rio tinha um A de anarquista no cu, MAS BELEZA) é liberado em “The Show Must Go On” e depois de passear pelo estádio é destroçado por um cara usando a máscara da morte e uma foice. Pra mim a parte mais foda do show é o solo de “Confortably Numb”, eu estava com os olhos cheios de lágrimas, quase chorando quando o guitarrista estava em cima do muro chegando no ápice da música até que… um segurança agarrou um cara do meu lado e foi o puxando pra trás. Fiquei muito puto, ele atrapalhou a parte que mais esperei do show, porque não teve como eu não virar e perder o clima da música. Pelo que ouvi dizer pegaram ele porque tava fumando maconha… mas se fosse por isso, por que não pegaram logo metade dos que estavam ali no show? Não sei o que rolou, só sei que quebrou meu clima pra música e até agora estou puto com isso. Durante o espetáculo as músicas e o muro falam contra a opressão do estado, contra o preconceito, contra o controle midiático, sobre como a mulher destrói a vida de um cara, sobre como as drogas podem se tornar um anestésico mortal… O álbum “The Wall” foi originalmente lançado em 1979, desde esse ano muitas coisas já rolaram no mundo, se antes era guerra fria a coisa hoje é bem mais fragmentada… é guerra civil na África, conflitos no Oriente Médio, tensão do ocidente com China, e assim por diante. Tudo isso é mostrado nas projeções do muro gigante, sempre em sincronia temática com as músicas. The Wall se tornou um álbum para muito além de sua época, superou a historicidade e se juntou a obras de dissidência do século XX como 1984 (George Orwell) e O Processo (Franz Kafka) no hall das obras atemporais contra a opressão. Pra resumir o show: acho difícil, pelo menos nos dias de hoje, algum show superar as sensações sensoriais de todos os tipos que tive vendo The Wall, é um show do caralho. E sabe o segundo ticket do trem? Não funcionou na volta. E sabe o cartão magnético? Também não funcinou. Parabéns pro Rio por ter tentado ajudar quem ia pro show, mas não custava nada fazer a ajuda funcionar, né? Pelo menos o trem e o metrô passaram de madrugada, funcionando em sessão especial por causa do The Wall, pelo menos isso, tsc. Créditos fotos: OGlobo ARTE DA VITRINE: Thiago Chaves (@chavespapel)