Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Quem nunca passou por algum tipo de drama pessoal? Tudo esta legal na sua vida, tem um bom trabalho, uma namorada/namorado/esposa/marido ótimos, uma casa, um carro e de vez em quando consegue pegar a estrada e curtir uma boa viagem, mas lá dentro de você tudo isso não parece te realizar, te fazer feliz. Parece que está faltando algo. E é nesse momento em que as pessoas normalmente buscam aconselhamento em algum tipo de terapia. Eu já passei por isso e sei que muitos leitores também. E essa é a pegada de Terapia, uma webcomic vencedora do prêmio HQMIX de 2012, onde é relatado muitos dos problemas do mundo moderno, a solidão que as pessoas sentem, mesmo com as redes sociais, a internet e tudo que nos cerca. Inicialmente ela foi publicada no Petisco.org e hoje se encontra nos últimos 5 dias de financiamento coletivo pelo Catarse para fazer a primeira impressão desse ótimo trabalho! A HQ tem um enredo fantástico e uma ilustração belíssima e foi produzida por Rob Gordon, Marina Kurcis e Mario Cau e claro que não podíamos deixar passar a oportunidade de trocar uma ideia com essa galera foda! Então fiquem com a nossa entrevista com os autores de Terapia: – Queria que vocês se apresentassem aos nossos leitores! Quem são? O que fazem? E coisas que acharem pertinentes comentar! Rob: Sou formado em publicidade, mas trabalhei a maior parte da minha vida como jornalista. Já há alguns anos sou cronista e escritor, mas nunca abandonei totalmente o jornalismo ou a publicidade. Ou seja, podemos dizer basicamente que escrever é o que eu faço da vida. Mario: Sou quadrinista e ilustrador. Formado em Artes Visuais, mas dediquei toda minha vida às HQs. Desenho desde pequeno e nunca parei, minha paixão por contar histórias e criar imagens é imensa! Já publiquei no Brasil e também em outros países. Vivo em Campinas, onde também sou professor da Pandora Escola de Arte. Marina: Sou formada em gastronomia e trabalhei algum tempo na cozinha. Como “estragou meu hobby”, optei por fazer Psicologia, uma área que sempre me encantou. O próximo passo é finalizar meu TCC para, finalmente, conseguir o tão esperado diploma e montar meu consultório para atender as pessoas! – Sério, lendo Terapia, tive diversos flashs de um passado nem tão distante da minha vida, fases difíceis e problemas que não pareciam ter fim, apesar de tudo estar aparentemente em seu devido lugar. Por que vocês acham que tantas pessoas se identificaram com os problemas passados pelo personagem? Rob: Acho que o segredo não está nos problemas do personagem, mas no personagem em si. Creio que tivemos a sensibilidade de construirmos um garoto normal, igual a tantos outros que existem. E, a partir do momento que ele se parece com muitas pessoas, seus problemas e dilemas serão uma consequência disso. Além disso, num momento no qual as pessoas interagem com as outras sobretudo por redes sociais, é difícil não imaginar que temas como “solidão” e “se sentir deslocado” não atinjam muita gente. Marina: Acredito que essa identificação tenha sido possibilitada, como o Rob disse, porque o garoto é uma pessoa comum. Poderia ser uma garota também, que poderia morar em qualquer grande cidade mundo afora. O personagem não passou por nenhum grande drama, acidente, trauma ou fatalidade que o fizesse se sentir assim, mas ele não está feliz. Tenho notado que hoje em dia sofremos cada vez mais pressão para “fingirmos” que está tudo bem conosco: “se você mantiver o pensamento positivo, tudo dará certo” ou “sorria para atrair coisas boas”, são alguns exemplos, escutamos isso o tempo todo e vemos esse tipo de frase todos os dias nas redes sociais. O que quero dizer é que sempre somos encorajados a manter um sorriso no rosto mesmo quando não está tudo bem. Não somos encorajados a refletir sobre nossos próprios sentimentos, a pensar e falar sobre eles, e isso muitas e muitas vezes resulta no que está acontecendo com o garoto: ele não sabe exatamente como se sente, e muito menos o motivo para se sentir assim. É uma dinâmica cada vez mais presente na sociedade atual – e é por isso que eu, particularmente, acredito que fazer terapia se mostra cada vez mais necessário. Dessa forma, quando produzimos uma história que fala sobre problemas e sentimentos, as pessoas se identificam, porque todos sentimos, afinal de contas, e essa angústia que o garoto sente não é menos válida ou menos importante porque não tem uma causa aparente. – E como vocês se conheceram e resolveram trabalhar juntos no projeto de Terapia? Rob: O Mário conhecia meu trabalho e acabamos ficando amigos de internet. Sempre pensamos em fazer algo junto, e a coisa rolou de verdade com Terapia, projeto que ele já estava começando a planejar com a Marina, para o Petisco. Mario: Quando fui convidado pelo Petisco para desenvolver uma nova série de webcomic semanal, em pouco tempo tive a ideia de criar uma história sobre terapia, onde cada página traria um momento de uma sessão, com um psicólogo fixo e pacientes rotativos. As ideias foram evoluindo, e com a Marina e o Rob a bordo, fomos lapidando o que viria a ser nossa HQ. – A escolha do Blues como “trilha sonora” do personagem se encaixa perfeitamente na história, isso foi pensando antes do restante do roteiro ou veio com o tempo, de acordo com o desenvolvimento da história? Rob: Isso foi pensado quando estávamos desenvolvendo o personagem, quando começamos a roteirizar as primeiras páginas. Sentimos que o personagem precisava de um válvula de escape para aguentar todos os dilemas e confusões que ele sente. Conversamos muita coisa (nas primeiras ideias, ele seria escritor ou desenhista, mas isso ficaria com muita cara de “autobiográfico”). Aí fomos para a música, e o blues, com a carga emocional fortíssima de suas letras (que giram muito sobre solidão, perda, desilusão) , acabou sendo uma escolha natural. – Não sei se foi impressão, devido ao fato de eu ser um grande fã de Neil Gaiman, mas vi muito de Sandman nas páginas de Terapia. Quem são suas inspirações ao escrever/ilustrar? Rob: Há muito de Gaiman, nos textos. Mas também há muito de Frank Miller, de Will Eisner… Mas são influencias naturais no meu trabalho, não planejadas, pois são autores que admiro demais, tanto na forma quanto no conteúdo do texto. Mas existem referências pensadas: a sequência do sonho, no início do capítulo 3, tem uma forma narrativa toda calcada em Sin City. Mario: Eu gosto muito de Neil Gaiman, e gosto muito de usar temáticas de sonhos e metáforas visuais para contar minhas histórias. Mas acho que meus roteiros próprios têm mais influência de Eisner, Bá e Moon, Terry Moore, Craig Thompson, Alison Brechdel… Gosto do cotidiano, da poesia da vida normal. Minhas influências no traço são as mesmas, coincidentemente, e mais algumas, como Stuart Immonen, David Mack, etc. Marina: minhas inspirações vêm do cotidiano, de conversas com os amigos, dos pacientes que já atendi, das aulas na faculdade, dos professores, de Freud e Jung principalmente! – Ano passado vocês levaram o Troféu HQMIX na categoria “Web Quadrinhos”, como foi a sensação de ver o trabalho de vocês ganhando todo esse reconhecimento? Rob: Em uma palavra: indescritível. Já se passou mais de ano e, de vez em quando, eu ainda preciso cair na real e acreditar que “ganhei um HQMix”. Mario: Para um quadrinista, ganhar um HQMIX é uma honra imensa. Quer dizer, eu acho que deveria ser, para mim é. Acho que é normal se imaginar ganhando um reconhecimento desses pelo trabalho, e fico muito feliz que tenhamos isso no currículo. Como eu disse, é uma honra, pois creio que meu melhor trabalho até hoje está nas páginas de Terapia. Marina: Como o Rob disse, às vezes é difícil de acreditar! Mas é uma sensação muito boa, pra dizer o mínimo. Ganhar esse reconhecimento por um trabalho que aborda assuntos difíceis e delicados, que fala de Psicologia, foi surpreendente! É muito satisfatório ganhar um prêmio por um trabalho pelo qual temos muito carinho e empenho. – Como é colocar um projeto desses em financiamento coletivo e de que forma, principalmente para a industria independente, esse tipo de financiamento pode ajudar? Rob: Primeiro, sobre colocar o projeto lá. Dá mais trabalho que muita gente imagina, pois é um projeto que tem, como combustível, a divulgação. Temos sorte de ter leitores engajados, que ajudam muito com isso. Mas é um trabalho duro, tentando sempre promover, mostrar, não deixar as pessoas esquecerem – e elas esquecem, pois hoje em dia tem milhares de informações correndo na TL dela o tempo inteiro. Então, é muito trabalhoso. Mas é recompensador, pois é algo que fazemos junto com os leitores, essa proximidade não tem preço. Já para a indústria, é genial. É uma forma de lançar trabalhos que jamais chegariam ao público pelas editoras, que contam com orçamentos apertados e precisam escolher a dedo cada lançamento. Mario: Financiamento coletivo é um ótimo caminho para autores independentes. Claro, dá trabalho, exige muito do nosso tempo, da nossa capacidade de marketing… Eu não recomendaria a autores desconhecidos, pois é necessário um grande networking para garantir que o projeto vai dar certo. E claro, a experiência conta muito, tanto para elaborar quanto executar um projeto desses. Acho que essas plataformas são algo a se considerar fortemente no debate dos direitos autorais, das editoras e da publicação independente. Marina: Complementando o que o Mario e o Rob já disseram, acredito que esse tipo de financiamento pode permitir com que trabalhos que nem seriam publicados por editoras sejam publicados e cheguem aos mais diversos públicos – no nosso caso, toda a divulgação que temos feito acabou atingindo pessoas que nem conheciam muito de quadrinhos, mas que gostaram da temática de Psicologia e Blues. Falando especificamente de HQ’s, acredito que esse movimento todo, que precisamos fazer nas redes sociais para alcançarmos a meta do projeto, acabou chegando a pessoas que nem teriam ouvido falar da história se ela fosse lançada pelos meios tradicionais. Quem gosta de quadrinhos fica sabendo das novidades por meio de sites especializados, indo às sessões de quadrinhos nas livrarias, etc. Ser independente acaba sendo mais abrangente nesse sentido. – Eu cheguei até vocês através do Petisco e vi que lá tem outros projetos muito legais! Qual a importância deles para vocês e como funciona para publicar projetos por lá? Rob: O Petisco é muito importante para nós. Temos todo o apoio da equipe do site, além de liberdade criativa total. Mas, mais importante que isso, ele se tornou uma pequena comunidade de quadrinistas – nós e os demais membros do Petisco estamos sempre trocando ideias sobre a área. Além disso, ele se tornou um portal importante para quem gosta de HQs. Além de Terapia, outras histórias muito boas e com temáticas e estilos totalmente diferentes são publicadas ali. Para quem gosta, é perfeito, tem uma novidade por dia. Mario: O Petisco, apesar de relativamente jovem, já agrega muitos autores, muitas páginas, e com certeza vai crescer muito mais. Esperamos que novos autores se juntem ao grupo em breve. A possibilidade de dar espaço a novos autores, ou mesmo a autores já conhecidos mas que trazem novas ideias para publicação online é muito boa. Hoje em dia vemos uma grande produção de webcomics, algumas de forma mais tradicional, outras usando e abusando dos recursos que a internet proporciona, e como disse sobre o Catarse, gera discussões importantes sobre o mercado editorial. E para quem curtiu a entrevista, não pode deixar de conferir a que foi feita pelo Alexandre Inagaki, do Pensar Enlouquece, onde ele virou um personagem de HQ para entrevistar o protagonista da HQ Terapia! Ficou muito FODA!! E ainda dá tempo de apoiar o projeto e garantir seu exemplar autografado e outras coisitas! Clique na imagem abaixo e apoie.