Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr [ARTE DA VITRINE]: Thiago Chaves (@chavespapel) O Senhor dos Aneis, como trilogia, é para mim a maior obra cinematográfica já feita. Ponto. Não só no quesito financeiro – a trilogia fez mais de dois bilhões somente em bilheterias – mas também no quesito qualidade. Não é aquele típico filme com atores berrando e fazendo caras de raiva pra deixar todo o mundo chorando. Ou um épico com o olho gordo no Oscar, como alguns filmes inchados no estilo Martin Scorcese (ele é um dos meus diretores favoritos, mas é difícil perdoar coisas como Gangues de Nova York e O Aviador… coisa que Os Infiltrados faz tranquilamente). O Senhor dos Anéis não é nada disso, embora seu último capítulo seja um dos recordistas de Oscar – onze, junto com Titanic e Ben-Hur – e tenha feito toda uma geração chorar copiosamente. A Trilogia é simplesmente a adaptação da obra literária máxima de J. R. R Tolkien, feita por mãos de gente que entende e possui dedicação draconiana e quase cega. Foram 10 anos entre pré-produção – o que incluiu plantar diversas árvores que comporiam os cenários do filme – a seleção da maior equipe técnica já reunida na história do cinema (2.400 pessoas), escolha do elenco (não por acaso, mesclando desconhecidos com nomes tarimbados), gravações (que contou com quatro unidades de direção), edição, gravações de apoio, lançamentos e todas essas coisas obrigatórias para transformar o filme num sucesso. Nesse meio tempo, Peter Jackson, o tal cara que entende e diretor da monumental apresentação (que deve ter uma lábia das melhores, afinal, convenceu um estúdio a desembolsar 300 milhões na mais arriscada adaptação da história, o que não é uma das coisas mais fáceis), perdeu pai e mãe; atores do elenco atingiram a maioridade, mulheres da equipe técnica deram a luz, e uma pá de cenários gigantescos foram montados e desmontados… tudo na Nova Zelândia, que deu certas isenções ao povo da New Line (os produtores da Trilogia), mas lucrou biliordariamente com turismo e exposição constante por parte da produção, que sempre enfatizava de que TODAS as gravações eram feitas no país, não por acaso terra natal de Jackson. Mas nada disso contaria se o resultado não fosse o esplendor que foi. Elenco e efeitos especiais, que, quando mal empregados, são como um Calcanhar-de-Aquiles do filme, aqui só aumentaram a beleza da obra-prima. Muitos apontam a obra como apenas correta, alegando não ter nada de especial, diferente, revolucionário… é só mais um épico. Talvez aí esteja uma das qualidades dela: justamente ser tão monumental e bem contada, que nem se leva em conta que existe coisa parecida por aí. Parecida, Eu disse, pois não chega nem perto de ser igual. Perfeição às escondidas… Quando terminei de assistir o Retorno do Rei, em um cinema, e em pleno Natal de 2003 – o que não impediu que milhares de fãs esquecessem de ceia e essas reuniões de família que todos estão cansados de participar – fiquei com a típica sensação de não querer ver um filme tão cedo. Dessa vez não tinha mais a expectativa de ter que esperar um ano para acompanhar mais um capítulo do desenrolar da saga de Frodo, Aragorn, Gandalf & cia, pois simplesmente havia acabado. É como um misto de alegria extrema por ter assistido no cinema ao Star Wars da sua geração, com tristeza, por ter a certeza que não vai ver algo com tanta qualidade em pouco tempo. E o sentimento só se amplificou com a falha épica que havia sido Matrix Revolutions pouco mais de um mês antes. Mas uma surpresa estava na manga da New Line, o que só tomei conhecimento um mês após ter assistido ao Retorno do Rei: existiam versões estendidas de cada filme, que acrescentam cerca de 40 minutos em cada filme. Mesmo sabendo disso tardiamente – nos EUA as versões de A Sociedade do Anel e As Duas Torres já eram sucessos absolutos de vendas – veio aquele pensamento de adquirir tudo o mais rápido possível. E claro, como vocês devem saber, as caixas com as versões estendidas jamais chegaram ao nosso país, e se tornaram tão lendárias quanto o Um Anel. Os fãs devem se perguntar o porquê de tamanho pecado, já que nosso mercado de DVDs era é bastante forte e um produto assim venderia igual água. O motivo é um só: falta de visão da distribuidora dos produtos Warner no Brasil. Logo que Peter Jackson terminou a montagem da versão estendida, a New Line ofereceu mundialmente a uma pá de produtoras a oportunidade de lançar o produto em seu país. Como era uma marca forte e com estima de vendagem altíssima, algumas imposições foram feitas: a) todo o processo de legendagem, tanto do filme quanto dos extras deveria ser feito nos EUA, b) TODOS os extras teriam legenda, e c) um número mínimo de cópias deveria ser prensado no ato da assinatura do contrato (dizem alguns que era um número alto, tudo para evitar prejuízos). O povo do Brasil preferiu não arriscar e tocou o barco. Mas a dor de barriga logo chegou quando As Duas Torres estreou nos cinemas e teve uma bilheteria estrondosa. Somando ao fato da versão estendida na época estar fazendo um sucesso absurdo em outros países – ao todo a Warner ganhou de lucro com essas versões, cerca de 400 milhões – a Warner tupiniquim viu que era hora de admitir o erro e trazer o produto para o Brasil. Mas aí o caldo estava derramado, pois para fazer uma caixa para o Brasil, a New Line precisaria recontratar uma equipe de legendagem que, antes estava pronta para trabalhar, além de chamar uma outra para aprontar a versão de As Duas Torres ao mesmo tempo. Fora que, como o produto já era um sucesso, o valor do contrato subiria… ou dobraria, para ser mais exato. No fim das contas, não rolou, e os funcionários que foram a favor de não trazer o produto para o Brasil, foram posteriormente demitidos. Nos EUA já existem outras versões, como uma caixa ultraluxuosa com a versão de cinema e a versão estendida juntas. Mas… esqueçam o Brasil. No momento não existe qualquer plano ou projeto de trazer as caixas para cá, e Eu pude comprovar isso ligando e fazendo uma rápida entrevista com um funcionário da Warner Home Entertaiment Brasil, que preferiu não ser identificado. Caso você seja uma pessoa esperançosa, reze para que em 2011, com o lançamento do primeiro filme O Hobbit, a Warner criar um pouco de juízo e lançar as tão faladas caixas. É só não fazer igual George Lucas e lançar sucessivos packs diferentes, que ficamos agradecidos! Compre o Senhor dos Anéis Versão Estendida JÁ!!!! Enfim, a Maratona! Mesmo não tendo as versões estendidas da forma que gostaríamos (em embalagens originais e recheadas com os documentários gigantescos), eis que decidimos (Eu e o Voz do Além… já que os outros do Clã NSN não toparam assistir a Trilogia novamente da forma insana que propus, ainda mais com uma metragem tão violenta e extensa) que já havia passado da hora de vermos o que nos reservava as tais cenas extras. Pensei até em comprar no Mercado Livre uma versão com legendas em inglês e espanhol, mas abandonei a idéia rapidamente, já que não queria investir 300 reais num produto que sei que quase não teria valor de revenda, e que logo seria substituído por uma versão nacional, caso ela seja lançada daqui a muito, muito tempo. Pois então fizemos o que qualquer nerd faria: recorremos a nossa segunda mãe, a internet. Dois dias de trabalho do µTorrent e a Trilogia estava no meu HD, com seus gloriosos quase 7 GBs. Depois foi só esperar o primeiro feriado – 7 de setembro – e assistir tudo, investindo 12 horas da nossa vida na maior e melhor experiência cinematográfica que um nerd pode ter. Assistir O Senhor dos Anéis é como reencontrar amigos distantes. Para quem foi a um cinema ver os filme nas suas datas de lançamento ou algum tempo depois, provavelmente colocou discussão dos detalhes do filme e do destino dos personagens como pauta de discussões com amigos cinéfilos. E as versões estendidas conseguem uma proeza dupla: tornar os filmes melhores, mas sem deixar você achando que foi enganado com as versões oficiais, de cinema. As partes extras não estavam lá por um único motivo: a exigência comercial sacrossanta de que filmes rentáveis devem ter no máximo três horas. No início – mais precisamente durante metade de A Sociedade do Anel – se fica com aquela vontade única de ficar caçando as tais cenas extras (ao menos foi meu caso). Esforço em vão, já que tudo faz parte de um conjunto mais belo. O serviço de fazer uma versão perfeita da adaptação de um dos mais importantes livros do século passado (não sou só Eu que digo) não fica apenas no ato de inserir cenas no meio do filme, mas de remontar parte dele, afinal, cenas extras geralmente mudam a história e o sentido de determinado momento, e é preciso manter a coesão geral do filme intacta. Então, não espere apenas cenas grandes e importantes entre as extras, mas também momentos menores, quase escondidos, inseridos no filme. A Sociedade do Anel Os realmente fanáticos pela mitologia tolkieniana (como um amigo meio maluco que tenho, que vive me chamando pra integrar a Sociedade Tolkien) sempre dizem que, em matéria de fidelidade ao material original, A Sociedade do Anel é o melhor dos três filmes, e as cenas extras meio que dizem isso. Mesmo com seus 208 minutos – meia hora a mais que o original – a sensação que se tem é que não houveram grandes inserções. A cena extra mais marcante é o ultra comentado momento dos presentes dos elfos, que teria ecos até mesmo na ocasião mais tensa da jornada de Frodo e Sam: a batalha contra Laracna. A luta mágica de Gandalf contra Saruman também é ampliada, e tem momentos que devem ter cortado o coração de Peter Jackson ao deixa-los de fora do filme. Os elfos também tiveram um papel aumentado aqui, com a parada em Lothlórien tendo um significado mais amplo (fora alguns belos travellings) do que simplesmente uma parada para obter paz. Além dessas situações, a versão estendida faz literalmente o que o nome diz: estende a jornada da Sociedade do Anel. Você se cansa com eles, passa a ter uma melhor compreensão do passar do tempo, e do desgaste da caminhada. As cenas lacrimejantes também continuam por lá, como a queda iniciatória de Gandalf e a morte de Boromir, violentamente flechado por um Uruk-Hai, e a consequente separação de toda a Sociedade! Em essência o filme ainda arranca excelentes atuações de seu elenco, com destaque para o melhor personagem da saga, Gandalf (Ian McKellen) e Aragorn, interpretado por Viggo Mortensen. Os momentos aterrorizantes nas Minas Moria são de deixar qualquer ser vivo com o queixo no chão, e as versões estendidas só ampliam isso. Não há qualquer grande inserção aqui, mas sim a inclusão de pequenas cenas de ligação, principalmente na batalha contra o Troll, que fica (ainda) mais tensa. A técnica também é linda. O fato de Peter Jackson não ser – ao menos até o momento em que toparam deixar 300 milhões de verdinhas nas mãos dele – um diretor mainstream, deve ter ajudado na não utilização em excesso de efeitos digitais de última geração. Vários dos cenários, incluindo o belo e bucólico Condado, foram construídos pelas diversas equipes de design de produção da obra… mesmo que algumas fossem usadas por apenas um mês. Desde o início da produção o diretor afirmou que as interpretações ficariam à frente dos efeitos, e por esse motivo não contratou a Industrial Light & Magic, de George Lucas, que ficou visivelmente irritado com a entrada da Weta, que pertence ao próprio Jackson, como responsável para fazer os efeitos visuais da Trilogia. O final, mesmo sem cenas extras, continua impactante, mesmo para quem já viu algumas dezenas de vezes, continua com todo o seu impacto, ainda que trágico ao extremo. Junto com a visão de Frodo e Sam das terras de Mordor nos segundos finais, vem o pensamento: por que adaptações não podem ser sempre assim? Com respeito religioso ao material original, mas com a preocupação de transpo-lo corretamente para o cinema?! As Duas Torres A essa altura do campeonato já tínhamos desconectado o mouse e o teclado do PC, e deixamos somente os filmes rolando, sem interrupções. Aproveitamos e buscamos mais alguns pães com geléia de não lembro o que – que era só o que tinha pronto na minha casa. Ao ouvir as palavras proferidas por Gandalf para se identificar frente ao imenso Balrog de Moria, momentos antes da câmera guiada pelo excelente diretor de fotografia Andrew Lesnie, logo lembrei da primeira vez que havia visto a cena. Na época ainda estava no segundo grau, e acabava por ficar aulas de Biologia inteiras discutindo sobre a natureza do filme com o Sherman. E ver durante uma maratona meio louca dessas, foi como realmente assistir pela primeira vez. Na verdade, toda a Trilogia evoca esse sentimento de eterna descoberta. Sempre surgem informações e detalhes novos para tornar ainda mais rica experiência de assistir aos Três Filmes. De todos os três, As Duas Torres é o que melhor sai da experiência de ganhar uma Versão Definitiva. Não é o melhor de todos, posto ocupado pelo superlativo O Retorno do Rei, mas sua versão estendida melhora em 50% o resultado, mesmo aos olhos dos fanáticos de lupa, que finalmente viram surgir detalhes muito interessantes, como o momento em que Aragorn revela sua idade, 87 anos, para a surpresa de uma das mulheres que o amam, Eówyn. São 44 minutos que muito bem fizeram ao filme… além de paradoxalmente o tornarem mais rápido e mais bem amarrado. Se com A Sociedade do Anel a sensação era de cansaço e fadiga, graças à jornada desgastante presente no filme, aqui a finalidade é basicamente outra: elevar tudo para um nível grandioso… e aumentar o ritmo da trama. Para início de conversa, temos agora três linhas narrativas. Em uma Frodo e Sam (desculpem os fãs deles, mas essa é a mais chata), que encontram Gollum, o eterno escravo do Anel e para muitos o personagem principal da Trilogia, e alguns caminhos perigosos para chegar a terra de Sauron. Na outra linha, Aragorn, Legolas e Gimli partem para caçar orcs e libertar Merry e Pippin das mãos deles, que conseguem fugir e vão para Fangorn, a velha floresta dos Ents, e formam a terceira linha narrativa. Com certeza o que de melhor aconteceu foi um maior destaque aos Ents, e Barbávore, um dos meus personagens preferidos. Foi inclusa a cena em que Merry e Pippin ganham altura após beberem a entágua (água especial dos ents), além de exclamarem expressões na linguagem das árvores. A sequência é hilária, assim como quase toda a passagem dos dois hobbits entre os seres da floresta. Outra cena extra das maiores que logo vai ser notada, é um belo flashback com Boromir, Faramir e Denethor (além do momento em que Faramir encontra seu irmão boiando no rio, o que explica como Denethor sabe da morte de seu filho), o regente caduco de Gondor. É bela, e tira aquele ranço que a versão de cinema deixou pra cima do heróico Boromir – que ficou lembrado como o cara que tentou roubar o anel de Frodo -, além de explicar melhor as motivações e as nuances psicológicas do seu irmão. O mais impressionante é como esses poucos minutos de flashback conseguem mudar o que você pensa de personagens importantes no decorrer de uma saga gigante… tudo fruto do trabalho admirável de Peter Jackson e toda a sua equipe. A megalomaníaca Batalha do Abismo de Helm fica simplesmente insuperável com as poucas adições de cenas extras aqui. OK, fica insuperável por algumas horas, já que a Batalha dos Campos do Pelennor, em O Retorno do Rei, não demoraria a chegar, mas com certeza ela vai encher seus olhos por semanas. Somente essa batalha é melhor que filmes inteiros. Na verdade, um séquito de diretores dariam um braço, 10 rolos de filme e duas câmeras novinhas da Panavision para ter, em seus filmes, cenas como a da chegada de Gandalf e os 1.000 Rohirrim, liderados por Éomer no final da batalha. Ou alguns momentos antes, com a saída de Théoden do Forte da Trombeta, juntamente com Aragorn e uma parte do seu exército (no link anterior… e faça um favor a você mesmo e assista em HQ!). Ou quem sabe o final na batalha,que diferente da versão para cinema, não é anti-climático, e termina com os orcs fugitivos sendo devorados pelos Huorns, árvores enviadas por Barbárvore. Somente os Ents merecem um filme só deles. A cena em que Barbárvore ruge após ver toda a floresta em torno de Isengard cortada, e a saída de todas as antigas árvores para a batalha contra Saruman, no que ficou conhecido como a Última Marcha dos Ents, é de arrancar rios de lágrimas. Unida a trilha sensacional de Howard Shore, a cena fica como uma das mais climáticas e emocionantes de toda a Trilogia. E olha que de humano só temos dois ali, embora o Barbárvore com feições de John Rhys-Davies atue muito melhor que boa parte dos atores de Hollywood. Se a experiência terminasse por aqui, já seria uma das melhores coisas a qual tinha visto… mas, o melhor ficou para o final, e mesmo com As Duas Torres tendo o nível que vocês estão imaginando, o próximo capítulo da saga é algo estratosfericamente bom! Mais uma vez o milagre acontece: a Versão Estendida é muitíssimo superior a do cinema – principalmente se você é atento a certos detalhes… O Retorno do Rei Já tinham se passado quase oito horas de maratona, e, claro, o cansaço havia chegado. Com ele, as expectativas quanto ao que veríamos de cenas extras no melhor e mais emocionante capítulo da Trilogia, que fecha tudo que ficou em aberto com perfeição, mesmo sem a inclusão de momentos importantes como os Expurgos do Condado (Peter Jackson explicou a contento o porquê de retirar essa parte, afirmando que a idéia desde o princípio era que as batalhas terminassem com a destruição de Sauron! Além, é claro, do fato de Jackson sempre afirmar que não filmaria a cena, por não gostar dela pelo fato de ser anti-climática), estavam nas alturas. A sequência inicial de O Retorno do Rei meio que tenta esconder a explosão de emoções que vem a seguir. Vemos Sméagol, um Grado da Floresta de Lis, pescando com seu primo Déagol. Após seu primo achar o anel no fundo do lago, Sméagol o mata, para logo depois ser banido de sua terra, e obrigado a viver nas profundezas das Montanhas Sombrias. Mas se o destino da Terra-Média se encontra nas mãos de Frodo, Sam e Gollum, que transportam o Um Anel, os melhores momentos ficam por conta da batalha que está se desenhando em Minas Tirith, capital do mais importante reino da Terra-Média: Gondor. O próprio reino está enfraquecido, graças à linhagem dos regentes, que assumiram o lugar da nobre descendência de Isildur. Denethor está louco e desconta a morte de Boromir no irmão dele, Faramir. Mais uma vez Merry e Pippin ganham mais participação e excelentes cenas extras. Eles se aproveitam da destruição de Isengard para fumar as ervas de Saruman e comer a comida dele – parte disso ocorre ainda em As Duas Torres . A chegada de Gandalf, Aragorn, Legolas e Gimli ao local, assim como o destino de Saruman não é mais daquela pobreza e economia da versão de cinema. Ao invés de esconder Saruman, a versão escancara sua morte – um pouco no estilo fatality, para ser sincero – nas mãos de seu ex-fantoche: Grima, que envenenou a mente do rei de Rohan em boa parte de As Duas Torres. Enquanto a morte do velho mago serviu para tapar um buraco grave da versão para o cinema (por mais que tenha falhas, a versão para cinema já merece um 10, tranquilamente), ela serviu para o furor do Voz do Além, que esperava algo um pouco mais icônico, como a Batalha de Beirágua, inserida no capítulo dos Expurgos do Condado no livro. Mas, admitamos mais uma vez: inserir a sequência ia ser um pouco incômoda depois da avalanche climática do fim da Batalha nos Portões Negros e da Coroação de Aragorn… fora a despedida nos Portos Cinzentos. Ao longo de suas épicas quatro horas e 11 minutos, O Retorno do Rei tem muito, muito mais de cenas novas. A preparação dos Rohirrim para a batalha nos Campos do Pellenor é ampliada, assim como os momentos em que Aragorn, Gimli e Legolas permanecem negociando com o Exército dos Mortos. O próprio encontro dos três com os Corsários do Norte e a tomada dos navios é mostrada ao invés de ficar apenas na mente de quem assiste (vemos até a “morte” de Peter Jackson, que toma uma flechada no peito, como você vê abaixo). Algumas cenas são ampliadas, como a arrepiante chegada dos Rohirrim na Batalha dos Campos do Pelennor, após um discurso hipnótico de Théoden – o melhor desde o proferido por Willian Wallace em Coração Valente (antes disso Gandalf enfrenta o Rei Bruxo de Angmar, que destrói seu cajado). A expressão dos uruk-hai amedrontados ante a bravura do exército de Rohan é um dos melhores momentos da longa batalha, assim como a chegada do Exército dos Mortos, que praticamente encerra a ofensiva do exército dos orcs. Basicamente não dá pra se concentrar no que há de novo, ou nos defeitos, já que TUDO em O Retorno do Rei é digno de nota (quem esquece a derrubada de um olifante por Legolas, por exemplo?), mesmo que em termos de história e narrativa fique atrás do segundo capítulo, já que esse final é basicamente uma sucessão de cenas de batalhas, costurada pelos momentos derradeiros da jornada de Frodo. Contudo, se você perdeu o fôlego com os campos do Pellenor, prepare-se para mais uma dose de batalha frente aos Portões Negros, no próprio lar de Sauron. Como existem cerca de 10.000 orcs que separam Frodo do local onde ele deve destruir o Anel, Aragorn tem a idéia mezzo suicida de batalhar contra os gigantescos exércitos de Mordor, para que a destruição possa ser completada. Após a idéia ser aceita pelo grupo, Aragorn segura o Palantír que pertencera a Saruman e encara Sauron, para mostrar Andúril, a espada forjada dos fragmentos de Narsil, a própria que foi usada por Isildur para arrancar o Anel do dedo de Sauron. Na apresentação nos Portões Negros aparece um emissário do próprio Sauron (alguns fãs esperavam o próprio Senhor do Escuro em estado renovado), portando o colete de Mithril que pertencera a Frodo. Mesmo com a tristeza se abatendo sobre todos os integrantes do Exército de Gondor, Aragorn profere a frase-síntese que permeou todas as batalhas até então: Por Frodo!, enquanto corre sozinho rumo a uma infinidade de orcs insanos. A corrida do restante do exército (inclusive Merry, Pippin e Gandalf), os gritos, assim como a batalha a seguir, é como o início do fechamento climático da mais importante obra cinematográfica de todos os tempos, além de ser outra oportunidade que seus olhos aproveitam para serem lubrificados. Mas se tem UM herói nesse capítulo final, ele atende pelo nome de Sam. Se jogar o anel no fogo de Mordor dependesse exclusivamente de Frodo, a Terra-Média estaria perdida. Levado pelas palavras de Gollum, o Portador do Anel acaba por mandar seu amigo de volta para casa, que não desiste, e volta… para encontrar Frodo já devidamente embalado por Laracna. Sam ainda salva o amigo em outra oportunidade, além de ter que assistir a batalha dele e de Gollum pela posse do Um Anel, tudo porque Frodo, na hora H, resolveu que não o destruiria. Após a queima do Um Anel – fruto de uma luta louca e primitiva entre Gollum e Frodo – a destruição de Mordor, e o resgate dos dois hobbits pelas águias guiadas por Gandalf, Peter Jackson dá sinais de que a Saga está caminhando para o seu fim. Muitos reclamam pelos múltiplos finais desse último capítulo, mas o fato é que, quanto mais demorado ele se torna, melhor, afinal eles servem como um momento de descanso e contemplação ao que ocorreu até aqui. Desde a coroação de Aragorn como rei de Gondor – além do seu casamento, que selou de forma bela seu arrebatador romance com a elfa Arwen -, passando pelas despedidas nos Portos Cinzentos, até o fechamento de tudo onde a narrativa começou, no Condado, o que qualquer um quer é que o filme não acabe, embora o tom ameno e reflexivo, somados às lágrimas que já devem estar rolando, indique o contrário. O fato é que a grandiosidade do filme – e dessas Versões Estendidas – reside nos detalhes, às vezes pequenos como os hobbits, mesmo que todo o resto esteja perfeito! Independente da forma como você interprete O Senhor dos Anéis – já vi teorias de que Tolkien quis representar o clima da II Guerra que ele viveu, enquanto outras apontam para diversos conceitos cristãos, com anjos, demônios e tudo o mais – é óbvio que a obra pode fazer diversos sentidos para cada um, mesmo carregando as múltiplas referências presentes nas teorias que se apresentam por aí. Têm pessoas que rejeitarão o conceito místico da obra, não se cansado de afirmar que tudo aquilo não existe… outros enfatizarão bruxaria. Para mim é simplesmente a força através da amizade, do perdão, da bravura, do não-abandono dos ideais, de manter firme suas opiniões e posições… enfim, de lutar pelo que se acredita, não se importando que exista um exército de orcs gigantesco querendo lhe devorar lá fora. Então, mesmo com toda a pirotecnia se sobressaindo – ainda que o filme tenha atores que simplesmente deixaram de existir e, de fato, viveram os personagens – os sentimentos que a química e a metafísica do seu corpo liberam após uma sessão da Trilogia são muitíssimo mais importantes. Não estou aqui discutindo se O Senhor dos Anéis é a melhor obra da história – para mim é, e pronto – mas de como você reage e o que absorve dele. É impossível não se identificar ao menos com algum personagem que desfila na tela. E se na maior parte os vilões são rasos – salvo Saruman e Gollum, que não é um vilão no sentido da palavra – é porque a obra é clássica, feita de heróis, com jornadas épicas e aquelas situações de emocionar. Somente por Peter Jackson, e seu batalhão de integrantes da equipe técnica e elenco, terem conseguido transportar isso para as telas com a qualidade intacta, eles já são dignos de minhas palmas para sempre. Mas infelizmente, tudo, mesmo a mais longa das jornadas, termina, e as 12 horas perante um monitor de 17’ widescreen se acabaram. E misturada com aquele sentimento de perdi a vontade de ser cinéfilo, típico de quem acaba de ver o filme da sua vida. Mesmo com esse sentimento passando ante a chegada de clássicos do naipe de Watchmen, é fato que creio que não verei algo como O Senhor dos Anéis na minha geração… e as versões estendidas só aumentaram a distância deles frente aos outros grandes filmes. A Trilogia Estendida é simplesmente o motivo para a existência da nota 11 e de que o cinema pode deixar de existir, pois já vi o melhor que se pode extrair dele… The Lord of the Rings: Extended Trilogy (Nova Zelândia & EUA, 2002 a 2004) Diretor: Peter Jackson Duração (respectivamente): 208 min, 223 min e 251 min Nota: 11 Compre agora mesmo!!