Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr “Este vai ser o Cody total.” “Na divisa do Colorado, naquela divisa ocidental e árida com o pobre estado de Utah eu vi nas nuvens enormes lá no alto amontoadas acima do deserto flamejante ao anoitecer a grande imagem de Deus com o dedo apontado para mim através de chalos e circunvoluções e dobras douradas que eram como a existência a lança brilhante em Sua mão direita, e Ele disse, Vai e faz-te mundo afora; vai gemer pelo homem, vai gemer, vai tremer, vai tremer e os teus ossos mexer, sem ninguém ver, vai e faz-te pequeno diante do meus olhos; vai faz-te minúsculo como a semente da vagem, mas a vagem no caroço, o mundo é uma Vagem, o Universo, um Caroço; vai de encontro á tua morte e espalha o relato verdadeiro da história de Cody.” O século XX foi um dos mais importantes para a literatura. Nele, os escritores finalmente se libertaram das amarras do passado, tornando-se livres para manifestar sua arte da maneira que bem entendessem. Graças a isso, surgiram novidades como poesias sem preocupações com métrica e romances sem trama. Além disso, o século foi berço de alguns dos maiores escritores da história. Talentos tão díspares entre si quanto Virginia Woolf e J. R. R. Tolkien, Kafka e Lovecraft, Luigi Pirandello e George Orwell. E também um certo francês de saúde frágil chamado Marcel Proust. Proust ambicionava representar em sua grandiosa série de romances Em Busca do Tempo Perdido a sua própria vida, contando apenas com a sua memória e ajuda de parentes e amigos para relembrar os fatos mais obscuros. Preso a uma cama por causa das crises asmáticas, ele todo o tempo livre para rememorar seu passado e reescrever centenas de vezes cada um dos seus livros. Ele os via como obras abertas. Sempre era possível fazer modificações ou incluir novos trechos. Sem este perfeccionismo talvez ele Proust não tivesse conseguido gravar o seu nome na História. O jovem americano Jack Kerouac sonhava em ser tão grande quanto Proust, Melville, Whitman, entre outros autores que admirava. Mas, ao que tudo indicava, ele nunca conseguiria isso. Estava preso a uma crise de criatividade que impedia de ir muito além como escritor. Tudo mudaria radicalmente depois que ele conhecesse Neal Cassady, um jovem recém saído do reformatório que também queria ser escritor. A fala rápida e animada, a forma de escrever parentética e quase iletrada e o seu comportamento alucinado, cheio de uma empolgação infantil por tudo, transformariam Kerouac e seu estilo de escrita para sempre. Depois de terminar o elogiado pela crítica, mas pouquíssimo vendido, Cidade Pequena, Cidade Grande, iniciaria um novo romance. Desta vez se inspiraria em suas viagens pelos Estados Unidos e o México com Neal Cassady. Escreveria em três semanas, num rompante inspiracional mergulhado em café, benzedrina e jazz, aquela que seria a primeira versão de On The Road. Após seis anos de recusas de dezenas de editoras e milhares de edições no texto final On The Road revolucionaria a cultura e o comportamento da juventude norte-americana. Inspiraria a música, o cinema, o jornalismo, a literatura e milhares de jovens em todo o mundo. Graças a ele, Neal Cassady se tornaria imortal como Dean Moriarty. Não bastasse isso tudo On The Road ficaria marcado para sempre como a representação de um tempo, a bíblia de uma geração conhecida como beat. Mas esse sucesso mundial só viria longos anos depois. Nesse meio tempo Jack Kerouac amargava o fracasso e a dor. Cidade Pequena, Cidade Grande fora um fracasso de vendas e On The Road era recusado editora atrás de editora. Enquanto isso, seus amigos Allen Ginsberg e William S. Burroughs já davam os primeiros passos em direção ao sucesso. Foi nesta situação difícil que Jack Kerouac escreveu o romance que julgava ser sua obra-prima, Visões de Cody. Retomando as viagens que fez pelo país e o personagem Dean Moriarty, agora batizado de Cody Pomeray, ele faria o impensável. Afogado em dívidas e morando de favor no sótão da casa de Neal ele abandonaria temporariamente suas preocupações com dinheiro para escrever o romance livremente, da maneira mais experimental possível. A sua arte no estado mais puro, o diamante bruto, seu presente para o mundo. Tão radical que Jack, com a certeza que só os grandes são capazes de ter, afirmou que Visões só seria publicado após vinte anos. E assim seu legado artístico sobreviveria à sua morte. Como ele mesmo diz em um trecho do livro: “estou escrevendo este livro porque vamos todos morrer.” Em 1960, Visões de Cody ganharia uma edição incompleta de apenas 750 exemplares que o transformaria em uma verdadeira lenda underground. Ele só seria publicado integralmente em 1973, após o falecimento do autor. “pela manhã vamos determinar se é possível abstrair parágrafos de material interessante neste fluxo de consciência em movimento que possam ser usados como capítulos fulgurantes de um grandioso ensaio sobre as maravilhas do mundo que avança enquanto clarões intermitentes o iluminam em retrospecto.” “enquanto eu luto às escuras contra a imensitude da minha alma, numa tentativa desesperada de ser um grande rememorador que resgata a vida nas trevas.” Visões de Cody também marca a decisão de Jack Kerouac de fazer dos seus livros uma só obra. Um projeto com proporções ainda mais gigantescas que o Em Busca do Tempo Perdido do Proust. A partir de Visões de Cody e On The Road todos os seus romances englobariam o que ele chamava de A Lenda de Duluoz. Cada novo livro seria uma nova parte da história, um ponto da sua vida recontado. Uma junção de memórias cada vez mais recônditas e detalhadas sem ordem preferencial alguma. O leitor poderia ler o primeiro que lhe caísse nas mãos. Ao fim da vida de Kerouac, A Lenda de Duluoz contava com cerca de vinte títulos. A principal característica kerouaquina é o fluxo de consciência, que aparece em quase todos os seus livros. A técnica literária já era praticada desde o Realismo no século XIX e consiste no universo mental do personagem apresentado de forma caótica. Não havia espaço para limites espaços-temporais ou preocupações com lógica. É como se a narrativa fosse um painel de imagens captadas por uma câmera no cérebro do personagem. Ele deixa seu pensamento solto, confundindo realidade e desejo, imaginação e fato, passado e presente. Os maiores expoentes a se servirem do fluxo de consciência foram Proust e James Joyce. Inspirado neles, Jack Kerouac queria usar o fluxo de consciência moderno, que ele chamava de prosa espontânea, para explorar os lados mais extremos da sua mente e memória. Com as muitas edições a prosa espontânea de On The Road praticamente sumiu, mas em Visões de Cody ele foi levado ao limite. Lê-lo é como entrar num labirinto sem saída e sem guia, num breu total. É ir até o fim do mundo e conseguir retornar, enriquecido. As diferenças entre On The Road e Visões de Cody não acabam por aí. Superficialmente, eles podem até ser semelhantes, já que tratam dos mesmos acontecimentos, mas a essência é bem outra. On The Road era sobre a amizade de Jack Kerouac/Sal Paradise e Neal Cassady/Dean Moriarty. Já em Visões de Cody, Visões de Cody retorna como Jack Duluoz para nos contar sobre o próprio Cody, o alter-ego de Neal. O último herói americano, nascido numa época em que não preciso ser duro de matar nem vir do futuro para receber este título. Cody é um jovem que poderia ser seu vizinho, um parente, um amigo. Filho de um mendigo alcoólatra e preso em um reformatório, resolveu estudar filosofia para tentar mudar seu destino. Trambiqueiro, mas cheio de um amor pela vida e empolgação que o fazia imune a bocejos, falar numa velocidade vertiginosa e a manter os olhos sempre vidrados, como um maníaco. Um maluco que consegue dirigir vinte horas por dias a mais de duzentos quilômetros por horas ultrapassando perigosamente tudo o que estiver em seu caminho. Entrar num carro em que ele é o motorista é como beijar a própria morte e sair ileso. Visões de Cody é o verdadeiro livro sobre Neal Cassady, o beat por excelência, o pai de todos os hippies, o vagabundo sagrado. Finalmente, é revelada a história da vida de Cody desde o nascimento. Sua infância de mendicância com o pai para comprar mais uma garrafa de vinho, o ano em que foi preso por roubar mais de quinhentos carros, o começo dos estudos filosóficos. Um outro lado dele que Kerouac não nos permite conhecerem On The Road também é revelado. O Cody pai de família, que tem que trabalhar duro para sustentar seus filhos. Que fracassava nas tentativas de escrever um épico sobre sua própria vida e admirava o talento de Jack Duluoz como escritor. Que abandona suas loucuras em troca de uma vida pacataem família. Mal sabia Kerouac que Neal Cassady não teria vida pacata coisa nenhuma. Pelo contrário, ele se uniria a Ken Kesey, autor de Um Estranho no Ninho, para uma viagem de ônibus e LSD por todos os Estados Unidos. Por esses e outros motivos, ler Visões de Cody é entrar em contato com a alma viva de Neal Cassady, uma das pessoas mais inspiradoras a nascer na Terra. É encontrar o retrato de uma geração. Se On The Road é a bíblia beat, Visões de Cody só poder ser o evangelho apóstrofo. “As nuvens de Massachusetts passavam pelo alto da minha cabeça, onde eu via através da cortina, eu sabia, como eu estou dizendo,, que eu tinha um destino imortal e nebuloso em algum lugar atrás e adiante de mim esperando que eu me ocupasse dele.” “eu achei que aquele som era uma grande gozação e mais especificamente a alegria do bop intermediário com Henry Steward é rejeitada por essa modernidade modernosa ou melhor sadomasoquista, com a erva eu pude ver que Handy estava sacrificando uma alegria que existia naturalmente no coração dele em nome da obscuridade e do desespero e de grandes mortes frustradas, a perda fatal do ego, o último resquício de identidade – a música parecia dizer ‘Ainda tem algumas coisas em que você pode se apegar e isso eu acho que devia servir de consolo – haha – mas nem isso você vai conseguir – mesmo que a gente tenha alegria na alma (interlúdio do bop) a gente não é nada além de merda e vamos todos morrer e comer merda na sepultura e estamos morrendo agora mesmo’. Um papo bem convincente!” Visões de Cody ainda consegue ser o maior fôlego de Kerouac. Além de escrever sem se preocupar com pontos e vírgulas, como se tornaria costumeiro em seus romances posteriores, as palavras voam pelas páginas como tiros de metralhadora, em todas as direções. Elas parecem ganhar vontade própria, escapar da mão do autor e brigar à tapas por nossa atenção. São centenas de neologismos, aliterações, onomatopéias, trocadilhos, bizarrices datilográficas e expressões transbordantes de significados e sentidos. Como se isso não bastasse, Kerouac ainda segue o caminho inverso da maioria dos escritores, o de escrever as frases mais curtas possíveis. As frases de Jack dariam inveja às maiores de Proust, atravessando páginas e chegando a extremos de ter quase quinhentas palavras. Por trás delas escondem-se oceanos de possibilidades e temas. É o tipo de livro em que cada leitura reserva novas descobertas que passaram batidos da primeira vez. Claro que um livro complexo como Visões de Cody pode afugentar alguns leitores. Assim como Kerouac não escreveu o livro pelo dinheiro ele não estava nem um pouco preocupado se os leitores gostariam ou não dele. Seu objetivo apenas era aquele que é o mais digno para um escritor: escrever para satisfazer a si mesmo acima de tudo. Afinal, não se pode agradar a todos. Se tentar fazer isso a única cosa que conseguirá é fazer uma história que não fede nem cheira. O sentimento do leitor será só um. Indiferença. E Jack, mais uma vez, leva as possibilidades disso até o limite. Afirma e reafirma que quem achar que a história tem algo de errado deve parar de ler e em um dos seus momentos mais ousados briga conosco, praticamente nos agarra pelo pescoço, como se tivéssemos interrompido inconvenientemente o seu relato. Dostoievski, gênio russo que Kerouac admirava, já havia feito algo semelhante no seu clássico Memórias de Um Subterrâneo. “Blam! O grande estrondo de um dos cubículos na igreja soa como a arma triste da eternidade sendo disparada em nome da imperfeição mortal. O som daquilo tudo em geral quando não tem mais nenhum barulho ao redor parece é claro alguma coisa marinha mas é também quase como o som de uma estrutura viva, assim como quando você olha uma casa você imagina que ela esteja contribuindo com mais uma respiração ao silêncio ensurdecedor.” Podemos perceber até Kerouac se empolgando enquanto faz de Visões de Cody um dos romances mais originais do último século. Aqui, passado e presente tornam-se um som sonho e realidade se confundem. As barreiras de trama, tempo e lógica, demolidas. Ele chega a escrever parágrafos inteiros de frases desconexas, alternar poesia e prosa e comentar músicas confiando que seremos capazes de ouvi-las em nossa pequena rádio mental. Até a clássica estrutura de Início, Meio e Fim, que há dois mil anos milhares de artistas já tentaram romper, ele consegue vencer. A música é a arte que consegue agir diretamente no nosso cérebro, afetando imediatamente os nossos sentimentos. Não é à toa que se costuma dizer que todas as outras artes aspiram a condição de música. E Kerouac foi o romancista a chegar mais perto de conseguir esta proeza. Inspirado nas músicas do bebop, uma das correntes mais influentes do jazz, ele compunha frases em que não era raro o sentido das palavras pouco importarem. Apenas o som delas. Cada frase ecoa a anterior, numa rima quase hipnótica diga de um verdadeiro poema em prosa. A sua intenção sempre foi não a de ser lido, mas de ser declamado. Ele próprio se confirmaria seu melhor leitor, lendo com uma agilidade avassaladora, imitando a forma como Neal falava. Procure no YouTube e confira por si só. Jack Kerouac, como um poeta lírico em prosa, queria evocar a música indescritível dos Estados Unidos. Focalizar o verdadeiro som interno de um país. Para isso, se esforçava para capturar a sonoridade as conversas das pessoas comuns, que via nas ruas e na noite. Seus diálogos e a própria narração transbordam informalidade. Soam como conversas verdadeiras, que qualquer um de nós poderia ter ou já teve um dia. E em nenhum outro livro seu ele conseguiu alcançar tanto equilíbrio sonoro quanto no capítulo 3, “Frisco: A fita.” Por mais de cento e quarenta páginas lemos as conversas entre Jack e Neal gravadas em fitas cassete e transcritas totalmente. As palavras de duas mentes únicas se unindo. Pensamentos de um gênio como Kerouac no momento em brotam do seu cérebro, em meio a uma viagem de maconha, anfetamina, vinho e jazz. Palavras que saíram da boca deles, foram registradas em áudio, capturadas no papel e, finalmente, transformadas em imagens fulgurantes vistas na janela da nossa alma. Mas Visões de Cody não se satisfaz apenas com seu lado literário e musical. Ele também flerta também com o cinema experimental. A câmera mental de Kerouac filma tudo por todos os ângulos, com closes, cut-ups e super closes. Ao contrário de On The Road e suas visões amplas, onde a beleza parece se esconder em cada cenário, Visões de Cody se concentra nos detalhes cada vez mais lúgubres e sombrios. A cada passagem, o romance vai ganhando tons mais negros. A vida em tons de cinza. Boa parte desse pessimismo está na representação da relação de Cody com a América. Não a América da riqueza e das oportunidades, mas a dos vagabundos, dos mortos de fome esquecidos por todos, as pessoas que só não estão na sarjeta porque sempre descem um pouco mais. Os Estados Unidos de pessoas desconfiadas uma das outras, cheias de paranóias e agressividade. É uma visão que ganharia ecos nas obras de Bukowski e John Fante. A América, afirma Jack Kerouac, é uma latrina solitária. “Não vai existir guerra quando a maconha for legalizada.” “Todos os nossos filmes B nos ensinaram o que a gente sabe sobre paranóia e suspeitas infundadas.” Qualquer pessoa que deseje ser um bom escritor precisa buscar conhecer o seu próprio mundo. Uma conversa numa mesa de bar ou uma viagem pode render muito mais material de trabalho que mil páginas de Mark Twain ou Shakespeare. Charles Bukowski encontrava verdades sobre a humanidade nas corridas de cavalos. Herman Melville as achou em suas viagens marítimas. Ernest Hemingway nas touradas. E Jack Kerouac as descobria na estrada, na noite, no mundo subterrâneo. E é justamente em Kerouac que este poder ganha maior força. Ele vinha de uma família franco-canadense e sua primeira língua foi o francês. Só aprenderia inglês na escola, aos cinco anos de idade. Assim como Camus e muitos escritores modernos, não se sentia em casa em lugar algum, um estrangeiro. Suas viagens pelo país eram nada mais, nada menos que sua busca para encontrar a si mesmo. É claro que a maioria dos escritores não consegue chegar nem perto de fazer o mesmo. A Segunda Grande Guerra foi um dos maiores eventos do último e mesmo assim contamos nos dedos as pessoas que conseguiram escrever obras-primas sobre ela. On The Road, ao ser lançado, em 1957, escandalizou os setores mais tradicionais da sociedade e diversos veículos da mídia por causa do consumo exacerbado de drogas ilícitas e o sexo livre praticado pelos personagens. Se eles tivessem tido a oportunidade de ler Visões de Cody naquela época veriam que, em comparação, On The Road parece até um livro infantil. Aqui os personagens não só se entopem de drogas como se fossem balas, mas também traficam. Não só transam livremente, como participam de grandes orgias. Jack Duluoz não só admira corpos femininos. Ele aqui também tece verdadeiras odes às bucetas com o mesmo desembaraço que analisa a masturbação. É o tipo de conteúdo que o público conservador dos anos 50 não estaria apto para aceitar. “Ah, masturbação. Não tem sentido algum arriar as calças como se fosse cagar e depois, porque ta com preguiça demais para se levantar, ou até de se mexer, simplesmente tocar uma punheta pensando nas coisas adequadas, e no delicioso auge deixar a porra jorrar para baixo, no meio das pernas, enquanto a necessidade do momento é a de ir para cima, para a frente, para fora, de se exaurir, de botar tudo para fora como se a gente raspasse o quanto tem nas bolas e espremesse tudo para fora do pau – não, mas com o troço se agitando e mandando ver lá embaixo, não só que o assento restringe os sobressaltos sobrenaturais em arco do caralho – no grande momento dá uma tristeza repentina porque você não consegue botar pra entro, pra fora, para cima, para frente – fica lá sentado como um idiota (como um homem senta para mijar) se escorrendo todo por baixo em nome da maldita higiene e da conveniência numa posição esquisita e lamentável, na verdade castrado acaba não tendo feito nada além de esvaziar as bolas como se você tivesse enfiado um trapo lá dentro e secado o desejo da sua vida com um esfregão.” Um dos temas mais recorrentes de Jack Kerouac foi a representação da marginalidade como uma condição superior de conhecimento. Para ele, os vagabundos são como grandes sábios, pessoas que por passarem por um lado mais obscuro e difícil da vida, tiveram acesso a mistérios e verdades desconhecidas pela maioria das pessoas. Cody, por ter passado a infância pedindo esmolas, é como um grande mestre, um inspirador de dezenas de pessoas. O homem que conseguiu se libertar das ilusões do mundo e resolve cair na estrada em busca de iluminação. Que resolveu colocar seu bem-estar acima de tudo e ter a certeza de que nada está errado. “Tudo me pertence porque sou pobre.” Visões de Cody ganha vida como uma torrente frenética de reminiscências, uma ficção de realidade onírica e vertiginosa. Um mundo doce e louco, nosso mundo preso em livro. O testamento literário de Neal e Jack, o legado permanece imortal nestas páginas, pronto para ampliar os cantos mais inalcançáveis da nossa mente. Ler Visões é se reunir a Kerouac, Cassady e seus companheiros beats numa longa jornada, beatificado. E pronto para a próxima. Afinal, quando concluiu este romance, ele sabia bem que esse seria apenas uma pequena parte de uma obra maior. A esse feito, só podemos dizer três palavras: Obrigado, Jack Kerouac. Visões de Cody Autor: Jack Kerouac Páginas: 448 Nota: 10 Compre agora!!