Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Primeiro foram os bruxos de Rowling, depois os vampiros (brilhantes) de Meyer com uma aparição rápida de anjos caídos e fantasmas, agora os holofotes da literatura caem nos adolescentes guerreiros de Suzanne Collins. O mundo dos livros já teve várias criaturas sobrenaturais e distopias como protagonistas, mas um gênero sempre se manteve no submundo das obras. Eles são carismáticos, simpáticos e até fascinantes, mas o pior de tudo é que eles podem ser qualquer pessoa. Do yuppie de Wall Street ao especialista em respingos de sangue na polícia forense de Miami, os serial killers sempre estiveram entre nós. Mas o que é de fato, um serial killer? Um assassino em série é uma pessoa possuidora do Distúrbio de Personalidade Anti Social (APD), um defeito cerebral que causa a falta de sentimentos categorizados como “Humanos”. Remorso,culpa, arrependimento, nenhuma dessas sensações existe num serial killer, além disso, a pessoa se sente reclusa e excluída da sociedade por não se adequar as suas normas. A partir disso surge a raiva, rancor e ódio isso sem contar uma outra série de fatores que pode acarretar tais sentimentos negativos, como abuso sexual, pressão psicológica constante desde a infância, pais desajustados, assédio moral ou infância perturbada como foi o caso de Ted Bundy, o serial killer mais perigoso e famoso do mundo. Um erro muito cometido quando o assunto é assassinos em série é confundi-los com matadores em massa e matadores por impulso. São diferenças muito claras que, por muitas vezes, são misturadas em filmes de terror americanos gerando a confusão na cabeça do público. Um matador em massa é aquele que dirige sua fúria para um determinado grupo que o hostilizou ou lhe fez mal, já um matador por impulso ataca o que cruzar seu caminho. Um exemplo excelente da segunda categoria é o personagem Jason da série de filmes “Sexta-feira 13”. A obra de Giorgio Faletti, “Eu mato”, faz parte desse seleto grupo da literatura e conta com um antagonista com as características citadas previamente. O livro conta a história do agente do FBI americano Frank Ottobre numa caçada ao mais novo assassino que aterroriza as ruas da até então segura Montecarlo. Como todo bom serial killer, seus métodos de matar chocam a população, além de enfurecer as autoridades que se sentem impotentes perante tamanha ameaça. Assim como em “Grau 26” de Anthony E. Zuiker, o antagonista da história é insano e impossível de ser capturado pela ausência de digitais ou qualquer outro tipo de vestígio. A única mensagem que o vilão deixa para os policiais é uma frase escrita com sangue em cada cena do crime: “Eu mato…” No entanto, o assassino de Faletti peca em crueldade. Enquanto o serial killer de Zuiker, Squeegel, comete os piores e inimagináveis tipos de atrocidades em sua matança desenfreada, o antagonista de Giorgio não chega a passar o medo ou sensação de incômodo esperados de um serial killer para os leitores. A narrativa da obra tem características da famosa literatura noir e o protagonista lembra um pouco os detetives criados por Dashiel Hammet com uma mistura de Steve Dark, personagem principal do livro de Zuiker. Um homem sério, atormentado por uma tragédia em seu passado, devotado ao trabalho e pode até ser caracterizado como um “casca grossa”, mas com uma ferida enorme no interior. O serial killer de Faletti é conhecido na história como “Ninguém” devido às conversas que tem com Jean-Loup Verdier, locutor do programa de rádio “Voices” em que pessoas necessitadas de conforto ou ajuda recorrem, e Ninguém é uma delas. “Eu sou um e sou ninguém” é o que sempre diz todas as vezes que se comunica com o locutor entrando num debate sobre o que é o ser humano. A impressão deixada é a de que Faletti tentou criar uma espécie de Hannibal Lecter com menos cultura ou sofisticação misturado com Squeegel e Dexter Morgan (personagem principal das obras de Jeff Lindsay), só que de um jeito diferente. “Ninguém” não tem uma presença constante na narrativa, não inspira medo, temor ou qualquer outro sentimento relacionado, para o leitor o assassino é indiferente. O assassino é um ninguém, mas ao mesmo tempo é alguém ao ser perseguido por causa de seus crimes, ele junta a notoriedade com o esquecimento numa só pessoa. Como quando surge uma nova celebridade na mídia. Antes dos holofotes essa pessoa era só mais uma na multidão, um ninguém, mas ao ser descoberta por uma característica em especial, ela vira um, ela vira alguém. Como o assassino de Faletti. Frank no começo do livro reluta em participar da investigação, mas a pedido de seu amigo e também policial, Nicholas Hulot, o agente do FBI aceita o caso e tem sua vida virada de cabeça pra baixo com o decorrer da caçada. Outra coisa que vai virar de cabeça pra baixo a cabeça do leitor são as descrições dentro da obra. O excesso de adjetivos e metáforas pode causar cansaço para quem lê o livro de Faletti ao ponto de poder pular parágrafos sem perder o fio da meada da história. Isso prejudica as passagens mais importantes e interessantes, como a visão de Ninguém quando cometendo os crimes. Entender o motivo pelo qual o assassino mata é uma parte fundamental de todo livro de serial killer, ajuda a conhecer a psique do personagem, instiga o leitor a continuar lendo até a última página e sacia a curiosidade. No entanto, com todas as metáforas excessivas e descrições lúdicas sem fim, até a parte mais importante fica chata. Os diálogos soam falsos e ensaiados, não tem aquela naturalidade de conversa entre dois oficiais ou entre duas pessoas normais, e Giorgio ultrapassa o limite Machadiano da exploração do psicológico dos personagens ao ponto da irritação. O Modus Operandi, ou como o antagonista mata as pessoas, de Ninguém consiste-se numa tática já explorada nos filmes de terror dos anos 70 com o personagem Leatherface da série de filmes “O massacre da serra elétrica”. O assassino de Faletti remove o rosto de suas vítimas de modo cirúrgico e os conserva para uma finalidade revelada no decorrer do livro. Além de fazer parte do Modus Operandi, as faces removidas são troféus. É normal dos serial killers levarem alguma coisa de suas vítimas consigo para admirar o trabalho bem feito e por eles realizado, além de os fazer sentir bem consigo mesmos. Como foi retratado nos quadrinhos de Frank Miller Sin City onde Kevin, um serial killer de prostitutas e canibal, guardava as cabeças das mulheres como objeto de triunfo. A pressão é constante na vida de Frank uma vez que aceitou o caso, além de se preocupar em capturar o pior serial killer que Montecarlo já viu, Ottobre também precisa lidar com os militares Nathan Parker e seu braço direito Ryan Mosse que querem fazer justiça com as próprias mãos após Ninguém ter assassinado quem não devia. No meio de todo o stress e pressão psicológica, a obra de Faletti encontra espaço para o amor em sua forma mais piedosa e melancólica personificada em Helena Parker, filha do militar Nathan e que esconde um segredo horrível. O modo como a história é desenvolvida não é um dos mais empolgantes, a narrativa vai se arrastando com os diálogos artificiais e excesso de descrições além de prolongar demais o clímax do livro. O leitor pode perder o interesse pela leitura ao chegar na metade da obra. Frank Ottobre diz na obra: “Uma vez li num livro que todos os enigmas são simples, depois que você fica sabendo a resposta”, realmente, o final de “Eu mato” é simples e frustrante. Não o recomendo a pessoas que já leram as obras de Thomas Harris, criador do serial killer mais charmoso da literatura, Hannibal Lecter, ou Jeff Lindsay, Dexter. E saber que Giorgio Faletti é um comediante de televisão dá pra entender porque seu livro é uma grande piada. Título: Eu mato Autor: Giorgio Faletti Número de páginas: 531 Nota: 2