Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Algumas pessoas possuem a facilidade de mudar de segmento com facilidade. Alguns trocam a comédia pelo drama ou comédia pelo terror. Atores como Jim Carrey ou Jonah Hill, trocaram a comédia por algo mais dramático. Carrey fez O Mentiroso (1997) e logo em seguida fez o Show de Truman (1998). Jonah Hill saiu das comédias para dirigir seu filme Mid90’s (2018), ótimo por sinal. Não diferente dos exemplos, Jordan Peele saiu da sua série Key and Peele, do canal Comedy Central, para dirigir e escrever seus próprios filmes. Aclamado pela crítica e público, Corra! (2017) chegou de surpresa e provou a capacidade de Peele, seja em roteirizar ou dirigir. O filme traz uma forte crítica social implícita, coberta de camadas de entendimento e a cada revisitada mostra algo que você não tinha notado. O filme é impecável em todos os quesitos e rendeu uma porção de prêmios, incluindo Oscar de Melhor roteiro original. Nós, conta a história de uma família que decide passar o fim de semana na praia para descansar. Mas eles são surpreendidos por um grupo estranho, grupo esse composto por cópias distorcidas da própria família. Confira o trailer abaixo: Diferente de Corra!, Nós é um filme de terror em sua totalidade. Ele começa no passado, com uma cena que exala um terror atmosférico grande e logo depois corta para o presente e dali ele começa a abrir caminho para o desenrolar da trama. O filme não tem pressa em estabelecer essa atmosfera, ele vai com calma e aos poucos os elementos vão aparecendo. A direção do filme é muito boa, assim com o seu roteiro afiado e bastante crítico naquilo que se propõe. Ele é tão hábil em conduzir a trama que em nenhum momento o filme fica ruim, tudo nele funciona. O aspecto da comédia é muito bem utilizado e não fica estranho, ele sabe o timing certo para colocar uma piada e não parecer que ela está deslocada. Com apenas um giro de câmera completo ele consegue fazer um dos melhores planos que eu já vi, conseguindo mostrar tudo o que o filme vai ser dali pra frente somente em um movimento de câmera. Toda composição dessa cena é absurda e mostra o quão bom o Jordan Peele é. Fico com receio de comentar alguns pontos de sua crítica à determinados assuntos, algumas pessoas podem considerar como spoilers, mas pretendo fazer um texto somente sobre as alegorias e críticas que o diretor insere no filme, mas nenhuma delas ainda foi confirmada e é somente minha interpretação sobre o filme em geral, cada pessoa pode ter uma interpretação completamente diferente e nenhuma delas está errada. O filme não faz questão de explicar certos elementos e nisso ele deixa brechas pra o expectador montar a versão que mais lhe convém. As críticas não são abertas e nem são simples de notar, cabe ao expectador prestar atenção e analisar tudo aquilo depois que o filme acaba. Esse filme é carregado de simbolismos e caso você não esteja atento a eles, sua experiência pode ser afetada de uma maneira grande. Na sessão anterior a minha, ouvi uma porção de pessoas falando que o filme era horroroso e quando a minha sessão terminou eu entendi a indignação deles. Mesmo tendo um apelo comercial forte, o filme não foi feito para a grande massa que está habituada com jump scares e derivados. Há um momento em que eu senti uma exposição desnecessária, momento esse em que os personagens duplicados falam aquilo que eles são, acredito que isso poderia ter ficado nas entrelinhas pois os filme já é carregado da mesma informação que eles dizem e essa repetição me deixou um pouco incomodado, mas isso não tira nenhum ponto do filme. Falando em entrelinhas, o filme foi feito para ser visto por diversas vezes e parece que isso é uma tendência do diretor. Não considero isso ruim, acho que enriquece a trama e faz o filme ficar melhor do que já é. As atuações de todos os atores estão espetaculares, mas a que mais se destaca é a Lupita Nyong’o. Ela entendeu perfeitamente a ideia do filme e eleva sua atuação a um nível absurdo. Ela é tão boa, mas tão boa que ela vai ser ignorada no Oscar, assim como Toni Collette foi esnobada pela academia por seu trabalho em Hereditário (2018). Sua versão duplicada tem uma voz bizarra e em algumas entrevistas ela disse que se preparou fisicamente para fazer esse tipo de voz. De acordo com ela, essa doença realmente existe e é chamada de Disfonia Espasmódica. Essa doença faz com que a pessoa tenha espasmos intermitentes na fala, nisso o ar é impulsionado para a fala e causa essa voz anormal. Em todas as cenas ela está perfeita e ela consegue entregar um trabalho primoroso que não será esquecido. Nós é um filme perfeito e ainda preciso digerir muito daquilo que eu vi. Adorei a direção, o roteiro, as atuações e não posso esquecer da trilha sonora, que adiciona e contribui muito para que o filme alcance aquilo que almeja. Espero muito que Jordan Peele continue nessa onda de filmes de terror, mas uma coisa é certa, qualquer projeto em que ele estiver envolvido eu estarei lá para apreciar. Nós (Us, EUA/2019) Direção: Jordan Peele Duração: 1h 56min Elenco: Lupita Nyong’o, Winston Duke, Elisabeth Moss.