Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Olá, Pachuchus maravilhosos da tia! Hoje é dia de falar sobre o pós vida, o sobrenatural, a matriz dos seres humanos e sobre como nem tudo é o que realmente aparenta ser. Uma foto publicada por Mob Ground (@mobground) em Jul 7, 2016 às 9:48 PDT Os Condenados, escrito por Andrew Pyper (autor de O Demonologista, também lançado aqui nas terras de Golpista pela Darkside Books), conta a história de Daniel Orchard, um escritor que precisa lidar com assuntos inacabados a respeito de seu passado enquanto tenta não morrer. De novo. Sim. Daniel não teve uma vida comum. Daniel morreu. Três vezes. E voltou pra contar. No entanto, ele não retornou sozinho. Sua irmã gêmea, Ash, não quis se separar dele. E isso, não é nada bom. Os gêmeos Orchard nasceram mortos, mas por um milagre, conseguiram voltar à vida. No entanto, algo morreu com Ashleigh quando ela ainda era uma pequena porção de gente. E todos pagariam o preço por isso, principalmente seu irmão gêmeo. No seu aniversário de 16 anos, os gêmeos morrem (de novo) em um incêndio numa casa abandonada em Detroit no meio do verão. No entanto, Danny consegue voltar e Ashleigh não fica nada feliz com isso. Andrew explora vários pontos interessantes em seu livro e um deles é o mal em si. Muitas pessoas identificam um ser maligno logo de cara, uma aparência grotesca, intimidadora, algo que os assusta e os alerta a não se aproximar. O mal nítido e que se mostra presente a partir do primeiro momento. É como ver um cão raivoso do outro lado da rua. Você sabe que não deve se aproximar dele porque isso significa se machucar. Porém Ashleigh é o oposto disso. Ashleigh é uma garota linda, exuberante, um prodígio que sempre se sai em bem tudo o que faz. Ela canta bem, ela dança bem, ela atua bem, ela é deslumbrante, ela é a primeira da classe, ela é a menina dos olhos de todos. Ninguém teria medo de se aproximar de uma pessoa como Ashleigh. Muito pelo contrário. Todos querem a atenção dela. Todos querem fazer parte do universo no qual ela se encontra. Mas o que só Danny e sua família sabem, é que ser o alvo da atenção de Ashleigh é o oposto de bom. A gêmea do protagonista é um enigma. A única certeza é que a garota não é o que pensam que ela é. Ashleigh é dominadora, sádica, maldosa, manipuladora, ela sabe muito bem que consegue enganar todo mundo se manter a postura de boa moça, e ela tira proveito disso. Sempre. Ashleigh é o mal que nem sempre tem aparência maligna, a mancha clara que você não consegue identificar imediatamente e que te incomoda até que ela se torne visível para você. Um jeito mais fácil de explicar é compará-la a um personagem muito presente na nossa realidade. Lúcifer. A Estrela da Manhã era o anjo favorito de Deus, seu braço direito, aquele que sempre estava ao lado do Criador. Se você tem um conhecimento básico sobre a bíblia então sabe o que aconteceu entre os dois. Porém, Lúcifer nunca teve a aparência grotesca e demoníaca com a qual é representado em gravuras ou livros. Lúcifer era o anjo mais bonito de todo o Paraíso. E é a mesma coisa com Ashleigh. Uma garota linda, que “nunca seria capaz de machucar uma mosca”. Os religiosos podem ver esse comportamento da gêmea Orchard como satânico, como sendo vítima de uma possessão, os céticos já podem dizer que é pura psicopatia e sadismo. De um jeito ou de outro, Ashleigh era uma ameaça. O pressentimento de que algo ruim aconteceria, não por obra do acaso, mas porque ela faria esse algo. Em uma passagem do livro, Danny conta como Ashleigh seduziu o capitão do time de basquete da escola, um garoto que certamente conseguiria uma bolsa de esportes para a faculdade e que poderia muito bem ser uma estrela do esporte, e destruiu seu futuro simplesmente porque ela podia. Porque ela podia e porque ninguém acreditaria que ela foi a responsável por isso. Ashleigh fez o garoto amputar os dedos da mão com uma ferramenta elétrica e fica meio difícil jogar basquete sem os dedos. Sem basquete, sem bolsa, sem bolsa, sem faculdade e por aí vai. A gêmea Orchard sempre justificava seus atos como “curiosidade”. Quando ela trancou uma de suas amigas em um quarto pequeno e escuro até a garota passar mal ela o fez por “curiosidade”, porque “queria ver o que aconteceria”. Ashleigh é uma antagonista intrigante, mesmo sem muitas informações sobre como ela era, você não pode evitar se sentir atraído por ela. Pela presença dela a cada vez que ela tenta assustar e até matar o próprio irmão gêmeo. Essa garota é um mistério, uma coceira no fundo da garganta que você não consegue ignorar. Ashleigh se faz presente no livro mesmo quando ela não é mencionada. Você fica só esperando ela aparecer e algo horrível acontecer. Como geralmente é o caso. Danny acredita que a irmã ficou assim após sua morte como bebê, que “algo morreu dentro dela” e que o resto de sua vida foi uma vingança contra essa força misteriosa que a privou de algo essencial a todos os seres humanos: Sentimentos. Ashleigh não consegue amar. Poderia falar mais sobre a gêmea Orchard mas se eu continuar vai chover spoiler por aqui e eu quero que vocês tenham a experiência de montar esse quebra cabeça aparentemente inofensivo. Se vocês já me conhecem então sabem que eu adoro temáticas de terror e sobre espiritualidade, vide minha resenha sobre A Noiva Fantasma (também publicado pela Darkside. É muito amor gente <3). Então quando comecei a ler Os Condenados e vi que o pós vida e os elementos desse universo seriam fortemente abordados, eu fiquei maluca. Um dos aspectos que mais me agradou sobre o assunto foi que Andrew não teve uma abordagem óbvia. A crença comum é de que o Inferno é uma caverna subterrânea cheia de lava e demônios feios e seminus torturando almas humanas, ou que o Paraíso é um mar de nuvens com portões dourados e vários anjos voando por lá. Contudo, não é assim que a coisa funciona em Os Condenados e, se você parar pra pensar, faz muito sentido. Todos nós temos experiências diferentes ao longo da vida, dias bons, dias ruins. Podemos até ter similaridades, mas no final, ainda são diferentes. Cada um de nós tem um conjunto de coisas que nos faz sentir medo, agonia, raiva, felicidade, etc. É pessoal, é único, é nosso. E é exatamente assim que os diferentes planos astrais são retratados no livro. Cada um tem o seu Inferno pessoal. A combinação dos piores fatores que já foram experienciados por você todos reunidos em um único lugar, um lugar que você odeia, um lugar que te trás más lembranças. No caso de Danny e Ashleigh, esse lugar é Detroit. A cidade onde moram. No entanto eles não são os únicos ali, várias pessoas vagam por esse lugar decrépito e em decomposição. É como eu disse antes, mesmo que nossas experiências ruins sejam a seu modo, únicas, ainda partilhamos de similaridades com outros seres humanos. Outro assunto a respeito do universo sobrenatural que Andrew fala sobre em Os Condenados são os espíritos vingativos. Não é segredo nenhum como eles surgem, se você já assistiu algum filme de terror sobrenatural então sabe do que estou falando. Mas se você é novo no assunto, não tema pachuchu, a tia está aqui pra isso. Espíritos vingativos são almas que foram vítimas de mortes violentas, inesperadas e que carregam rancor, ódio e ressentimento dentro delas. Alguns se recusam a aceitar que morreram, outros querem se vingar contra a pessoa que os matou, os motivos variam, mas uma coisa é certa: Quanto mais sentimentos ruins essa alma tiver dentro de si quando morreu, mais forte ela fica do outro lado. Ashleigh é um espírito vingativo, Ashleigh não quer que Danny se separe dela. Danny deveria tê-la salvado do incêndio, deveria ter morrido com ela, assim como fez quando os dois eram bebês. Mas Danny voltou e Ashleigh não está acostumada a não ter o que quer. E, assim, como todo espírito vingativo, a gêmea Orchard não vai sossegar até ter o irmão ao seu lado. Nem que isso demore anos, mas Ashleigh sabe esperar. Ela tem todo o tempo do mundo e o que Ashleigh quer, Ashleigh consegue. Seja isso bom ou não. Uma coisa que eu notei no livro de Andrew é que os diálogos são críveis. Eles não soam forçados. Conforme você lê os personagens conversando, as frases soam reais, palpáveis. O tipo de conversa que você teria na vida real com qualquer outra pessoa. Os Condenados fala sobre vida após a morte, assuntos inacabados, acúmulo de rancor e até onde isso pode levar uma pessoa. Fala sobre como o mal pode se infiltrar na vida cotidiana, seja por indução ou não, e nos assombrar, sobre como os sentimentos e as relações podem afetar alguém. Sobre as tentativas de recomeço, como o ser humano tem um lado feio e que às vezes o auto sacrifício é a única opção em prol do bem maior. Título: Os Condenados (The Damned) Autor: Andrew Pyper Editora: Darkside Books Páginas: 332 COMPRE AQUI