Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Com a fundação da Marvel Studios, a Casa das Ideias finalmente obteve o que a DC tinha desde muio tempo: controle total sobre seus filmes. Alguns chegaram a comentar que era um voo que demoraria a decolar, já que os grandes nomes da editora já estavam nas mãos de outros estúdios, como Homem-Aranha (Columbia/Sony) e X-Men (Fox). O calaboca veio na forma de Homem de Ferro, que além de tirar Robert Downey Jr do ostracismo cinematográfico – e ter nos lembrado o quão grande ator o cara é -, mostrou que a Marvel Studios tinha tudo para ser uma potência, não somente na guerra entre filmes de editoras de quadrinhos, mas entre os grandes estúdio de Hollywood. Com a Disney comprando a empresa por alguns bilhões em 2009, a situação pareceu caminhar para uma franca estabilidade. Quem assistiu os filmes estrelados pelos heróis da empresa já havia manjado cedo: tudo estava pensado para o lançamento de Os Vingadores, que nas palavras da produtora, prometia ser um épico de super-heróis dos mais explosivos. Nick Fury era como um maestro reunindo uma orquestra para uma grande apresentação, e tinha seus momentos de trama nos pós-créditos garantidos nos produções da Marvel. A aposta em Vingadores era uma espécie de tudo ou nada para a empresa, que em certo ponto da jogada chegou a ser responsável por dois filmes meia-boca que nada mais eram do que spin-offs de luxo do futuro encontro de heróis: Thor e Capitão América. As expectativas foram jogadas na estratosfera, como consequência, e um filme ruim resultaria em um castelo de cartas de planos sendo desmoronado sem dó – e provavelmente sem volta. Felizmente a aposta deu certo, e Os Vingadores é um filmão de super-herói, com quase certeza ele é tudo que um fã de quadrinhos espera de um longa de verão: porrada, explosões, ETs invadindo a Terra e seres super-poderosos de cérebro de gelatina salvando o dia. Não espere qualquer tipo de discussão, questionamento ou momento cinema-arte: Os Vingadores é pura pirotecnia com um arremedo de roteiro e uma estrutura climática padronizada que em nada difere de um Armageddon da vida – aquele filme que, apesar de ter Bruce Willis e Steve Buscemi, é ruinzão. Os Vingadores é o típico filme que faz (quase) qualquer um pular da cadeira, mandar um foda-se e berrar quando o Hulk começa a esmagar gigantescas naves alienígenas – e metade de Nova York junto. Apesar de ter personagens nada críveis, a especialidade da Marvel de transformar heróis em porções exageradas de gente-como-a-gente entra em campo e coloca tudo nos eixos. Então, não se assuste caso se identificar com as piadas rasas – e por isso bem engraçadas – de caras que vestem armaduras de ferro e uniformes vergonhosamente patrióticos. A trama do filme não é nada rebuscada, e na verdade é propositalmente facilitada para não complicar as coisas. Loki entra em acordo com uma raça de aliens guerreiros: em troca de conseguir um exército para detonar a Terra, o príncipe desterrado de Asgard dá aos aliens o Tesseract, um portal do Universo que também serve como fonte de energia infinita. Com essa ameaça em franco crescimento, Nick Fury, superespião chefão da S.H.I.E.L.D., decide dar uma nova chance a Iniciativa Vingadores, para reunir caras com super-poderes contra a ameaça. Daí se juntam Homem de Ferro, Thor, Viúva Negra, Capitão América e Hulk – e Gavião Arqueiro lá pelo final – com o intuito de deter Loki e impedir a destruição da Terra por aliens pentelhos. Obviamente que nessa onda de fazer heróis mais humanos, a Marvel inventa de torna-los adolescentes que trocam sopapos ao invés de usarem uma boa dose de conversa. As brigas não são poucas, e provavelmente vão fazer os menos versados no mundo do grupo da Marvel se segurarem da cadeira. Thor briga com o Homem de Ferro, que troca uns socos com o Capitão América – até os dois se unirem para brigarem com Thor. Todos ainda se unem para tentar segurar a onda de Hulk logo a frente, no auge de sua fúria. É a antítese do que é a Liga da Justiça – ou uma versão adolescente, não sei -, que reveste seus integrantes com uma mitologia única e bem construída e os coloca como amigos no sentido pleno da palavra, não importe o quão ultrapassado isso possa soar. É uma espécie de união mitológica que une os integrantes da Liga da Justiça, um senso de dever sempre ao lado dos heróis… enquanto os Vingadores se contentam com alguns cartões cheios de sangue para mostrar como caras com poderes podem ter o cérebro diminuto. As próprias grandes sagas da Marvel são calcadas em brigas internas: Dinastia M, Guerra Civil e a recente Vingadores vs X-Men. Não é sempre que a Liga acerta, assim como não é sempre que os Vingadores protagonizam uma boa história – mas leia Os Supremos para entenderem como às vezes os Vingadores acertam em cheio -, mas as diferenças dos dois grupos ficam ainda mais gritantes com esse filme. Mas se os poderes os separam, o humor os une. Os Vingadores é um filme engraçado. É outra marca forte das recentes produções da Marvel que a empresa explorou muito bem, sem soar batido ou coisa que o valha. Não à toa é Homem de Ferro/Tony Star que comanda o filme, e não perde tempo em querer apresentador todas as vantagens de ser um playboy, bilionário, inventor, filantropo e mais um monte de merda que ele deve escrever em algum currículo secreto dele. O humor misturado com ação é a fórmula que faz o filme funcionar brilhantemente. Quando os personagens estão em Helicarrier Bridge – o porta-aviões voador que também é base operacional da S.H.I.E.L.D. -, eles se encarregam de fazer piadas de primeira. Mas quando a segurança da Terra é colocada em risco, os seis vingadores entram em cena para resolver tudo na base da força. Esse aspecto é escancarado quando chega a hora do vamos ver. Loki – que manda muito e entrega o vilão que o filme precisava – consegue habilitar o portal, que é aberto e permite a entrada de ETs com cara de oráculos virulentos de Esparta. É aí que finalmente os seis se unem. O filme não economiza momentos emocionante em seu fim. Vemos Thor carregando raios absurdamente grandes, o Homem de Ferro enfrentando situações suicidas, a Viúva Negra arrancando cabeças com acrobacias ao mesmo tempo violentas e sexies, o Gavião Arqueiro acertando flechas no olho de aliens enquanto fala ao celular, o Capitão América largando da frescuragem do filme solo dele e mostrando serviço, e Hulk… bem, sendo o Hulk e esmagando qualquer coisa (e anotem aí: ele protagoniza a melhor cena do filme). É um orgasmo visual digno da espera e dos easter eggs lançados pela Marvel em suas produções. Ao final, Os Vingadores ainda encontra espaço para lançar um gancho de fazer muito nerd tremer nas bases logo após os créditos. É o filme de verão perfeito e explorou muito bem o potencial de heróis mainstream no cinema: muitos músculos e pouco cérebro, o que aqui é ótimo. Nem dá pra perceber que se passaram 140 minutos após a projeção, tamanho é o cuidado do diretor e nerdão Joss Whedon em terminar tudo com uma dose épica sem aquelas quinquilharias visuais que gente como McG e Michael Bay tiram da cartola. O único porém que filme levanta está fora do alcance dos poderes dos Vingadores: o futuro da Marvel no cinema, agora que sua maior criação já está pronta e repercutindo por aí – e continuação começará a ser rodada mês que vem. Para continuar colhendo os louros do sucesso, a Casa das Ideias precisa rever a sua fórmula, que já deu francos sinais de desgaste, como Capitão América mostrou bem. Mas esqueçam isso e vejam Os Vingadores sem medo de serem felizes. De preferência com amigos, fãs de quadrinhos. Berre na sessão, vibre com Homem de Ferro voando a centenas de quilômetros por hora, com Hulk mostrando que é o maior brutamontes que os quadrinhos já produziram, com a volúpia de Scarlett Johansson e com a esperteza assustadora de Nick Fury. Se não tivesse Batman e O Hobbit para enfrentar em 2012, chegaria com tudo para ser o filme do ano. The Avengers (EUA, 2012) Diretor: Joss Whedon Duração: 142 min NOTA: 8