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(Originalmente publicado em NerDevils)

E após superar a preguiça e falta de criatividade pra escrever pro blog, vou finalmente chegar à ultima edição da Near Myths, com a última participação do Morrison através de “The Checkmate Man”. E calma galera, esse post não vai discutir teoria, marxismo x pós-modernismo, blá blá blá… ao menos não diretamente.

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No editorial da Near Myths #5 escrito pro Bryan Talbot podemos mapear o que o Morrison andava fazendo entre uma edição da NM e outra:

  • Planejava a construção de uma HQ de 100 páginas coloridas chamada “Abraxas”, em parceria com Tony O’Donnell. Morrison seria o roteirista e O’Donnell o desenhista – até onde sei, o projeto fracassou e só foi parcialmente publicado 7 anos depois (1987);
  • Escrevia novelas;
  • Tocava numa banda de rock;
  • Escrevia e desenhava em STARBLAZER da DC;
  • E ainda produzia “Captain Clyde” pra Govan Press.

Pelo visto o careca tava aceitando qualquer coisa pra sobreviver, e dando seus pulos, arriscando tudo que podia, como no caso do “projeto Abraxas” no intuito de atrair atenção do público e sedimentar seu nome enquanto roteirista.

The Checkmate Man

É um dia claro e frio. Um barbudo que nos parece familiar, com chapéu longo e casaco, sai do hotel carregando uma caixa. Ele ouve um zumbido e olha na direção do som. Uma bala é cravada na sua cabeça e ele tomba, derrubando a caixa, fazendo papéis voarem. Foi assim que  Kral Marx foi assassinado por “The Checkmat Man”.

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O nome do cara é Lyall Conrad, ele era um técnico em eletrônica trabalhando na construção da Viking V (uma sonda espacial que seria usada para explorar Marte), quando acidentalmente caiu da plataforma de construção e ficou entre a vida e a morte. O cientista Marcos, da NASA, reconstrói o corpo de Conrad, o transformando em um cyborgue e o colocando a serviço da CIA num programa de viagem temporal. É assim que Lyall Conrad se torna um assassino temporal.

Sua função? Reconstruir a história, eliminando figuras centrais que ameaçam o governo americano. Se ele se recusar a cumprir a ordens, Marcos, o cientista que o reconstruiu, pode desativá-lo apertando um botão.

Marx, Lincoln, Mao-Tse-Tung, Bobby Kennedy, Marylin Monroe, todos assassinados. A II Guerra Mundial foi encerrada em 1945, aumentando o poder americano sobre o mundo. O caso Watergate foi mantido oculto, o que aumentou o poder da CIA sob a presidência. Tornando o governo mais poderoso do mundo numa marionete da CIA.

O interessante em The Checkmate Man é uma vontade que o Morrison tem de matar principalmente os comunistas, o que deixa latente o período de guerra fria da época, em que o que o governo americano mais temia era o terror vermelho, no entanto talvez também esteja apontando que o projeto de Morrison para um futuro melhor, não era exatamente o caminho das tradições de esquerda.

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Para além disso temos também um personagem que é obrigado a trabalhar modificando a história ou será morto. Cada viagem que ele faz ao passado, quando retorna ao “presente”, o mundo está diferente, então, afinal de contas, quem é ele? Não existe mais marxismo (nunca existiu), mas ele sabe do marxismo; não existem mais os Kennedys, mas ele lembra deles. Isso vai fazendo o personagem começar a pirar, porque ele se torna uma espécie de fantasma do tempo. Ele tem os resíduos do que não existe mais dentro de sua cabeça.

Ele perde a identidade, não tem um lar, já que cada viagem feita o mundo se modifica. Então porque ele continua viajando no tempo? Se ele não tem um lugar pra voltar, uma identidade, se nada do que ele gostou um dia existe mais, qual o sentido de manter sua vida a qualquer custo?

A idéia do plot na verdade não é lá muito genial, acho que uma criança de 12 anos pensa sobre esse tipo de coisas às vezes. No entanto é o desenho tem o melhor traço do Morrison na Near Myths, e ele usa um plot bem simples pra se fazer perguntas que vão ser sempre interessantes: se pudermos editar a história como se fosse um filme em que cortamos as partes que não gostamos, o que nós seriamos? Como seria o mundo? Qual seria a graça da vida? A imutabilidade do passado e a imprevisibilidade do futuro é o que parece mais interessante, e não o seu oposto, como a CIA deseja fazer em “The Checkmate men”.

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