capa-menina-ma_02A capa de gosto um tanto duvidoso pode dar a falsa impressão de que estamos diante da biografia da Barbie, mas Menina Má, escrito por William March, publicado no Brasil pela Darkside Books com tradução de Simone Campos, é na verdade um livro de suspense. Um livro de suspense que nem tem boneca na história, diga-se de passagem.

A pequena Rhoda Penmark é uma bela garotinha de 8 anos que é boa de caligrafia, vai muito bem na escola, gosta de sorvete e de matar pessoas, não necessariamente nessa ordem. Na verdade não é que ela goste desse negócio de tirar a vida dos outros, mas é que às vezes ocorrem algumas situações meio chatas em que ela quer muito uma coisa, mas as pessoas complicam tudo e aí o assassinato acaba se tornando um recurso inevitável.

O livro foi publicado originalmente em 1954, num período em que a psicanálise era modinha entre os escritores e aí eles sempre davam um jeito de jogar o divã na cara do leitor. Por exemplo, o ótimo Psicose, de Robert Bloch (publicado no mesmo período e que deu origem ao clássico dirigido por Alfred Hitchcock), também segue essa linha psicanalítica e tenta justificar clinicamente todos os atos de Norman Bates. A diferença é que em Menina Má esse recurso é utilizado em excesso, tornando o livro óbvio e maçante.

O histórico psiquiátrico do autor, que chegou a ser internado num sanatório, gera certa expectativa a respeito da construção psicológica dos personagens, mas infelizmente falta-lhe sutileza na composição de seus personagens e na arquitetura da narrativa.

Não há brechas para que o leitor possa tentar interpretar alguma coisa por conta própria, pois o narrador sempre dá um jeito de explicar tudo detalhadamente, das ações ao estado mental dos personagens, sem nem ao menos nos poupar do jargão profissional. Então do nada você se depara com gente comum falando em lapsos de linguagem e interpretando sonhos, como se todo mundo fosse discípulo de Freud. O lance de show don’t tell não funciona muito com March, uma vez que ele narra os fatos, explica as características dos personagens e diz o que eles estão sentindo. Se por um lado o autor deixa claro como pretende que a gente acompanhe a história, por outro, parece que ele subestima a nossa inteligência, como se não fôssemos capazes de ligar dois pontinhos.

[quote_box_center]Fotos da adaptação ao cinema (Tara Maldita/ The Bad Seed) de 1956 que tinha Patty McComarck no papel da menina Rhoda Penmark.[/quote_box_center]

Praticamente todas as personagens femininas do livro, incluindo a mãe da garota, responsável por boa parte do foco narrativo, são estereotipadas. Ou são histéricas e desequilibradas, ou são apenas escrotas mesmo. O meio tom é reservado apenas para os personagens masculinos, mas a maioria nem chegam a ser desenvolvidos direito.

Pra piorar, a introdução do livro (que poderia muito bem ser um posfácio) solta um spoiler de um dos únicos plot twists da história (fuja dessa introdução como um fã de Game of Thrones foge do Twitter), revelando a explicação que autor dá pra o que está acontecendo com a garota, coisa que só ocorre no terço final da obra.

O livro segue um ritmo atípico, principalmente se o comparamos com as outras histórias de crianças encapetas que vemos por aí. A primeira morte, por exemplo, só ocorre na página 70 e não há nada de novo no front até bem pra frente da metade do livro, e o que rola nem é lá grandes coisas do ponto de vista da violência. Neste meio tempo o autor articula as ações dos personagens, desenvolve a ambientação, a trama de mistério que já sabemos o desfecho e também traça um pequeno panorama da classe média daquele período. Muitas das movimentações dos personagens vão do nada para lugar nenhum e servem apenas de ganchos óbvios que serão utilizados ao final, como as empreitadas do jardineiro malvadinho e as insinuações de pedofilia. A partir desses ganchos, subentende-se que o autor está preparando terreno para um banho de sangue, mas só que ele nunca chega.

Como William March se excede nas explicações, Rhoda não chega a ser uma psicopata assustadora, pois embora ela seja insensível e violenta, suas ações são bastante previsíveis. O que se salva, felizmente, é o final. A conclusão corajosa não chega a compensar o árduo caminho até ali, mas certamente tornam o livro mais interessante.

[quote_box_center] Obs: A versão Limited Edition deste livro nos foi enviada pela própria Darkside Books, devido a nossa parceria de longa data com a mesma. O que não afeta o nosso julgamento sobre a obra em si.[/quote_box_center]

meninama_capaMenina Má

Autor: William March

Tradutora: Simone Campos

Editora: DarkSide Books

Páginas: 272 páginas (estimadas)

Especificações:  Limited Edition (capa dura), 14 x 21 cm.

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