Relançado pelo selo Tsuru, a linha de mangás da Devir Editora, Tekkon Kinkreet já havia saído pela Editora Conrad como Preto e Branco, em três volumes publicados em 2001. A mais famosa HQ de Taiyo Matsumoto revelou para o público brasileiro seu traço cheio de personalidade e uma dupla de garotos que parece ter vida própria. Pouco depois, o mangá ganhou um anime que deixou ainda mais evidente a personalidade e brilhantismo dessa história.

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Tekkon Kinkreet conta a história do inocente Shiro e do destemido Kuro, que são garotos de rua que tomam conta de uma cidade metropolitana japonesa. Eles possuem habilidades fora do comum, mas isso é tratado com uma curiosa naturalidade por todos os outros personagens. O problema é que uma empresa parece ter planos de dominação para a cidade e vê essa molecada inofensiva como um problema.

Matsumoto parece ter sintetizado o espírito da cidade na vida desses dois garotos, que serão atormentados por esse clã estrangeiro. Outra coisa interessante é que os adultos parecem ter uma visão mais limitada do que acontece na cidade, mas os dois moleques que estão se virando para sobreviver na ruas parecem saber de tudo.

O tarot se manifesta através da maravilhosa encarnação de O Louco (0) que é o Shiro, sempre com uma conversa aleatória, mas a bússola moral no lugar certo. Ele é completamente surtado, infantilizado e livre de qualquer raciocínio linear, o menino parece ser capaz de sentir e fazer coisas que vão surpreender sempre. Certamente, ele é meu personagem favorito e dá vontade de ter um moleque desses te acompanhando nas aventuras do dia a dia. Ele certamente é regido pelo elemento água, pois sua inteligência emocional é fantástica. Só que Shiro tem como pontos fracos os elementos ar e terra, que fazem ele ter dificuldade de ter um raciocínio lógico e lidar com coisas da vida material.

Já Kuro é durão e fechado, como O Mago (I), no entanto esconde um segredo que pode se revelar muito mais sinistro do que somos capazes de imaginar. Ele também é o mais habilidoso e sabe lutar tão bem que enfrenta muitos adultos, inclusive mafiosos da Yakusa. O que eu mais gosto nele é essa raiva quase incontrolável que ele sente por tudo e todos. Passei por isso durante toda a minha vida, mas externava através da escrita. Na minha leitura, ele deve ser alguém regido pelo elemento fogo, que tem uma força criativa e determinação inabaláveis, mas a água é seu ponto fraco. Por isso, conviver com Shiro, que é duzentos por cento água, ajuda o garoto a manter o equilíbrio emocional.

Em determinado momento da história, temos a chegada de uma figura demoníaca que pode ser claramente inspirada em O Diabo (XV), tanto que o traço até lembra alguns demônios de Hellboy e o ELE das Meninas Superpoderosas. Na visão do tarot, ele é a figura que manipula todo o ambiente da cidade e tem planos materiais muito sólidos para aquele pacato local. O álbum mantém o padrão de qualidade da linha Tsuru, mas dá muita tristeza ver as páginas coloridas impressas em preto e branco. Porém, essa edição é muito bonita, com papel de qualidade e merece ser prestigiada para que eles continuem lançando essas obras de mangá com teor mais adulto.

A trama me agrada bastante, pois ela é uma clássica disputa entre amor e ódio, mas construída em torno da relação entre dois amigos. Se você busca uma história inspiradora, arte subversiva japonesa e uma verdadeira fábula das ruas para adultos, não deixe de conferir esse mangá.

Curtiu a análise? Para ver outras interpretações da cultura pop com o tarot e até uma leitura da semana, siga o Instagram @fuzztarot

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