O musical La La Land: Cantando Estações (2017) é o novo filme de Damian Chazelle, diretor e escritor também de Whiplash: Em Busca da Perfeição (2014). Sem a mesma verve de seu antecessor, La La Land é menos uma homenagem à história dos grandes musicais hollywoodianos do que um romance consistente e bastante agradável de se assistir.

Em 2015, Whiplash foi indicado para cinco categorias no “Oscar”, inclusive a de melhor filme do ano. Perdeu esta categoria para Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (2014), mas acabou levando a “de melhor ator coadjuvante”, “edição” e “mixagem de som”. Na última edição do Globo de Ouro (2017), La La Land já bateu o recorde da premiação, levando para casa todas as sete categorias as quais concorreu, incluindo “melhor filme musical ou comédia”, “melhor atriz principal”, “melhor ator principal” e “melhor direção”. Isto é, ao que tudo indica La La Land é um dos favoritos para o Academy Awards em 2017.

O filme narra a história de Mia (Emma Stone), uma barista que trabalha em um cafeteria vizinha aos grandes estúdios em Hollywood. A jovem pinga de casting em casting, tentando realizar o sonho de ser atriz. A película também é sobre Sebastian (Ryan Gosling), um pianista que sonha em manter vivo o espírito do jazz em Los Angeles. Para tanto, busca juntar dinheiro para re-abrir seu bar de jazz favorito – que atualmente virou um clube de samba e tapas.

Em termos gerais, o filme é sobre o romance entre o casal Sebastian e Mia, assim como sobre a moral bastante batida do “não abandone seus sonhos”, junto com o “não desperdice uma porta aberta”. Tendo isto em vista, e por se tratar de um musical, La La Land surpreende, pois consegue romper com alguns clichês do gênero, ao mesmo tempo que eleva outros clichês ao cúmulo, subvertendo suas funções.

A própria fórmula hollywoodiana está um pouco do avesso em La La Land. Em geral, os grandes estúdios sempre foram ótimos em contar boas histórias. Vez ou outra, inovando em temas, cenários e formas narrativas. Entretanto, algo sempre permaneceu bastante estável, sofrendo poucas alterações nas produções em geral, a saber, a história de amor. Não importa onde os personagens estão, e o que está acontecendo ao redor deles, Hollywood sempre encontra espaço para enxertar uma história de amor.

Claro que existem muitos exemplos que contradizem esta afirmação. Inclusive ganhadores de Oscar estão aí para provar o contrário. Mas o ponto é que não há nada mais “hollywoodiano” do que enfiar um romance dentro de qualquer temática. Mesmo que seja de maneira rápida, ou mesmo que seja um romance mínimo, e até mesmo que seja só um beijinho. Se há algo que nisso funciona como detração para esta fórmula é o fato de que este tipo de enxerto rara vezes funciona bem, fazendo com que tenhamos em geral, bons filmes com tentativas baratas de contar histórias de amor.

No caso de La La Land acontece exatamente o inverso. Com todo o seu charme, o filme narra o romance entre Mia e Sebastian de uma forma aparentemente superficial, mas extremamente comum e identificável. O relacionamento do casal é marcado pela forma como a indústria cultural atravessa a constituição de nossos recursos sociais, mas com muita naturalidade, pois o filme não busca elevar este tema à crítica. Enlaça os personagens em um relacionamento que demora a despontar. O interessante é que esta demora parece muito natural na narrativa, fazendo com que até o primeiro encontro no cinema seja muito mais “clássico” do que “clichê”. Não é bem um amor à primeira vista, trata-se de uma relação que vai se desdobrando. Isso faz com que o espectador sinta-se “apaixonando” pelo casal em paralelo aos protagonistas.

É nessa entoada que as atrações musicais são amarradas à história principal, há algo de “abraçar o clichê” e deixar que as canções digam para além do que se pode expressar em diálogos. Em La La Land há boas canções, mas não coreografias inesquecíveis. A trilha é responsabilidade de Justin Hurwitz, que tem em seu currículo na mais, nada menos que o próprio Whiplash. Já as coreografias são assinadas por Mandy Moore, uma das produtoras do Dancing With Stars. Nesse aspecto, a película é muito mais forte enquanto uma homenagem aos grandes clássicos como Cantando na Chuva (1952), Os guarda-chuvas do amor (1963) e Amor, sublime amor (1960). Em termos de canções e coreografias, pode ser considerado um musical bastante contido, com exceção da cena de abertura, que diga-se de passagem, não deixa muito claro se é uma homenagem bem intencionada, ou uma sátira embebida em ironia. Isso faz com que a canção Another Day of Sun funcione muito bem como os dois.

Falando em canções, Mia & Sebastian’s theme (Late for the date) pode angariar um lugar dentro dos grandes temas clássicos do cinema simplesmente pela maneira como a canção é construída ao longo do filme. O tema é inserido em alguns momentos chave da narrativa, não sendo usado de maneira leviana. Isso faz com que a canção decante na memória do espectador aos poucos, produzindo um efeito extremamente nostálgico no clímax da história, que é crucial para que o encerramento funcione como uma debandada emocionante.

Mas para além do muito bem feito trabalho de Hurwitz com trilha, o filme ganha muito com as atuações de Gosling e Stone. Em La La Land temos novamente Ryan e Emma como par romântico. Após Amor a toda Prova (2011) e Caça aos Gângsteres (2013), em La La Land a vã pergunta é: poderiam estar mais afinados? Tanto enquanto par, quanto cantores? Aqui algumas curiosidades. Em 2014, Emma Stone estrelou na Broadway, com o musical Caberet, imortalizado por Liza Minnelli nos cinemas em 1972. No musical Stone interpretou Sally Bowles, personagem imantada à performance de Minnelli. Já Ryan Gosling, em 2009 juntou-se ao amigo Zach Shields para formar a banda Dead Man’s Bones. Gosling nessa empreitada supostamente afirmou ser influenciado por Current 93, Bauhaus, assim como pelo Vincent Price.

Somando-se tudo, La La Land apresenta-se um filme bastante maduro, sob uma superfície deveras ingênua e simples. Aí está todo o seu charme, pois em seus escorregões mais embaraçosos, a cinematografia e os detalhes conseguem manter o interesse do espectador. Talvez esse seja o grande mérito enquanto diretor de Chazelle: realizar um filme em muitos aspectos inferior ao antecessor Whiplash, mas que provavelmente agradará o público em geral, assim como barões da academia. Mas acredito que o verdadeiro mérito do diretor está no roteiro de La La Land. Apesar da superficialidade moral do filme, o relacionamento dos protagonistas adquire uma rara natureza da vida cotidiana em certos momentos, que se amarram ao puro clichê fantasioso da indústria cultural. Dilatar o tempo da narrativa é o segredo do filme. Segredo revelado nos primeiros segundos e velado nos últimos.

[quote_box_center]La La Land: Cantando Estações (2017)

Direção: Damien Chazelle

Duração: 2h 8min

Distribuidora: Paris Filmes

Elenco: Emma Stone, Ryan Gosling, Rosemarie DeWitt, J.K. Simmons, Claudine Claudio, Jason Fuchs, Finn Wittrock.

Estreia: 19/janeiro (pré-estreias em 12/janeiro)[/quote_box_center]

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